Ansiedade, o sentimento que consome a fé. |
A passagem de São Tomé, logo após o fenômeno
bíblico conhecido como ressurreição, é bastante conhecida de todos, virando,
inclusive, expressão popular a designar descrença – João 20:25-29. Não poderia
ser diferente, afinal, um discípulo simplesmente duvidou do testemunho dos
outros apóstolos.
A
reação de Tomé não é totalmente injustificada, analisemos. Os apóstolos
sentiam-se acuados, estavam escondidos numa casa, pois os judeus os perseguiam
– João 20:19. Sentia-se desprotegido, abandonado pelo Mestre, algo que, por
conta da própria ansiedade e angústia, provocava-lhe a incredulidade, olvidando
todas as experiências pretéritas ao lado do Cristo. Quem poderá atirar a
primeira pedra no descrente apóstolo?
Divaldo
Franco, em palestra intitulada “Maria de Nazaré”, comenta com bastante
propriedade a relação entre São Tomé e a maioria dos espíritas de hoje. Muitos
dão fartos testemunhos de fé, proclamam-se “enxadas do Cristianismo”,
instrumentos da divulgação espírita, naturalmente, quando esta tudo bem. Porém,
quando o “jogo vira”, aparecem os problemas no lar, os apuros com parentes nos
vícios, as turbulências financeiras, as dificuldades do cotidiano fogem ao
controle e viramos “reféns” da intervenção de Deus, tal como os apóstolos na
passagem citada, nos questionamos, “Onde
estão os nossos mentores? Essa espiritualidade que não atua, enquanto estou
aqui, sofrendo!”. Em absoluto desespero e descrença na providencia divina,
provocados pela ansiedade.
A
verdadeira fé, aquela capaz de suportar as dificuldades diárias com altas doses
de empenho, trabalho e resignação, sem reclamações ou blasfêmias, esquivando-se
dos queixumes e cansaços e conectada ao plano maior, ainda não nos pertence.
Portanto, o comportamento “São Tomé” é parte de nós.
Nas
queixas domésticas, as mais comuns, voltamos as nossas “baterias” contra
aqueles que nos causam dificuldades, preferimos duvidar da justiça divina a
acreditar nos nossos erros: “O que eu teria feito para estar no meio destes? Ou
fiz algo de muito errado ou Deus é injusto”. Vale a pena validarmos o nosso
conceito de Deus. Se acreditamos num Deus não muito envolvido com o detalhe das
nossas vidas, ocupado demais com as altas deliberações do universo, o qual não
se envolve com o nosso íntimo sofrimento e experiências probatórias, então,
neste caso, sim, tal injustiça é possível. Se for neste Deus que acreditamos, é
perfeitamente possível nascermos em uma família totalmente desconectada com as
nossas necessidades espirituais.
Entretanto,
se acreditamos no Deus trazido pelo Cristo, no qual não cai uma folha da árvore
sem o Seu conhecimento, do Pastor que conhece todas as ovelhas, se cremos no
Deus trazido pela Doutrina Espírita, absolutamente justo e bom, então a
injustiça não é uma possibilidade. É uma decisão que precisamos tomar, acerca
do conceito de divindade adotada.
É
claro que teremos as nossas dificuldades, quando encarnamos, nos propomos a
viver num planeta de provas e expiações, e não numa colônia de férias. As
provações e expiações da vida são necessárias para a nossa evoluções e
ressarcimento dos erros do passado. Temos as nossas obrigações e metas morais
as quais não podemos fugir. Naturalmente que a resignação e a fé serão
companheiras, unida a dedicação ao trabalho, deixam o “fardo” mais leve. O
resto, que não esta ao nosso alcance, está nas mãos de Deus.
A
vida tem sim o seu lado rude. Foi assim com todos os admiráveis exemplos do
mundo, por que seria diferente conosco? Quais foram as facilidades encontradas
na vida do Chico? Os ataques a sua obra e moral não cessaram mesmo após ser
reconhecido como líder religioso. Qual benécia material foi concedida a Madre
Teresa de Calcutá, além da saúde, para que a mesma levantasse a sua obra num
país majoritariamente não cristão? E o maior exemplo de todos, quais foram os
reconhecimentos e facilidades encontradas na jornada do Cristo que não tenham
sido plantados por ele mesmo? E mesmo cultivando o amor a cada passo, qual foi
a resposta da humanidade para com o Mestre?
Não
nos encontramos imunes às vicissitudes, as experiências da existência, em um
mundo de provas e expiações. Não somos possuidores nem merecedores de
privilégios. Naturalmente, teremos as concessões divinas, ainda não temos a
condição espiritual para dispensá-las. Por outro lado, possuímos
comprometimentos anteriores suficientes para nos apresentarmos ao rol das
batalhas morais, onde reclamações não pontuam e a ansiedade só atrapalha.
Por Pedro Valiati
FONTE: http://www.correioespirita.org.br
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