18 de abril de 1857, continua...11

Quando os últimos convidados partiram, após onze horas, Gabi apagou as luzes do apartamento e recolheu-se logo ao leito, deixando RIVAIL no escritório, sentado à escrivaninha de carvalho, sob a luz bruxuleante duma vela. Ele apanhou um caderno, já em parte escriturado e com o título ‘Memórias’ e principiou a escrever:

“Hoje, finalmente, 18 de abril de 1857, posso dizer que lancei a público o trabalho mais importante de minha vida pelo enorme benefício que, certamente, espalhará. E isto devo...”.

Susteve a pena por instante e, tirando da gaveta central um dossiê de couro marron, bojudo de papéis escritos, desatou-o e foi rebuscando entre folhas soltas a comunicação que lhe viera à lembrança ao escrever ‘devo’. Tinha esta nota à margem:

“De ZÉPHIR, em 5 de janeiro de 1857, data em que entreguei o manuscrito d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS a Madame DENTU”.

Evocando, mentalmente, o Espírito amigo que lhe dera, continuou a escrever após a palvra devo:

“... Em primeiro lugar a ti, caro Amigo, prezado Companheiro de outrora. Quero deixar aqui transcritas, em destaque, as tuas palavras:

“Mas qual! A VERDADE não será conhecida tão cedo, nem acreditada pela maioria antes que decorram muitos anos”.

“Você não verá nesta existência senão a aurora do sucesso desta obra”.

“Terá que voltar à Terra, re-encarnado ‘noutro corpo’, para completar o que está apenas comçando a fazer”.

“Só então verá em plena messe os primeiros frutos da sementeira que O LIVRO DOS ESPÍRITOS vai espalhar pelo Mundo”.

“Agora Você terá somente invejosos e competidores que procurarão denegri-lo. Não se desencorage porém! Nem se inquiete com o que disserem ou fizerem contra! Prossiga na tarefa! Continue incessantemente a trabalhar pelo progresso da Humanidade!”

“Enquanto perseverar na via do Bem, onde entrou, Você será sustentado fortemente pelos Espíritos bondosos e servos d’A VERDADE”.

“No começo do ano passado, prometi minha amizade aos que durante o curso dos Ensinos se portassem convenientemente em todas as circunstâncias. O ano acaba de findar. Quero cumprir a minha promessa, anunciando-lhe: “Você foi o escolhido”.

RIVAIL apôs, em seguida, estas palavras:

Obrigado ainda uma vez, caro Amigo. Não fiz mais do que o dever para ser digno de sua estima e da confiança de meu Guia. Se agi convenientemente, devo-lhe muito, prezado Irmão. Você guiou-me nos primeiros passos. Trouxe-me os primeiros instrutores. Apresentou-me ao Espírito VERDADE. Mostrou-me algumas páginas antigas de meu passado. E agora, nesta mensagem fraternal, ao fim de nosso curso, me desvenda um pouco do meu futuro. Obrigado por tudo, mil vezes obrigado! Creio, como Você, que não viverei bastante neste corpo já alquebrado, para ver o triunfo da verdade espírita. Ficarei satisfeito se puder resistir, como Você me anuncia, ao desenvolvimento germinativo da Filosofia que começamos a plantar hoje na Terra. A seara é de uns, a colheita é de outros. Assim diz o Evangelho. Mais de cem exemplares d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS já se foram neste primeiro dia, doados ou vendidos. Cada volume será um grão de vida nova lançada ao coração dum hom velho. Se algumas sementes cairem em corações ‘maduros’, haverá, por certo, gloriosas ‘ressurreições’. Mil e duzentas sementes d’A VERDADE serão lançadas no terrno da Opinião. Se uma só frondejar, nosso esforço não foi em vão. Você prometeu, no começo das Instruções, ajudar os que se esforçam. Sabe que me esforçei. Rejubilo-me em ver que, também Você cumpriu a promessa de ‘estimar’ os que se esforçam... Está ouvindo? O relógio soa meia-noite. Sinto alguém alertar-me em surdida. Adeus, caro Amigo!

RIVAIL fechou a pasta de couro marrom sobre o caderno escrito e, levantando-se, ouviu uma voz:

– Até logo, Amigo!

– Até breve, respondeu ele.

E, de castiçal em punho, rumou para o leito, na ponta dos pés, para não despertar Gabi.


*        *        *

Esta pequena resenha composta de 13 Post (Capítulos)
com o título de
18 de abril de 1857.

Foi extraído e adaptado da obra primordial de

de seu livro.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
E SUA
TRADIÇÃO HISTÓRICA
E
LENDÁRIA.


Edições LFU.
Primeira Edição.

São Paulo
1992.


ANTERIOR ou INÍCIO

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