Solicitado por amigos, pediu licença ROUSTAN para aduzir, também, algumas palavras ao assunto em foco.
– Você é sempre ouvido com prazer, respondeu RIVAIL.
Com o desembaraço de orador exercitadado, ROUSTAN entrou a falar, sem pose nem ademanes:
– Citado pelo professor RIVAIL e pelo sr. CARLÓTTI estou, de certo modo, provocado a dar meu apagado testemunho aos fatos. Concorde com o Professor quanto ao sentido prático do termo ‘missionário’: “Não é o que parte com um encargo e sim o que regressa, triunfante, após o desempenho”.
– Assim penso, aparteia RIVAIL.
– Eis, sem dúvida, uma definição de mestre. Mas, nenhuma incumbência, de grave responsabilidade, é dada ao primeiro aventureiro que a queira tomar para si, tangido pela vaidade ou aspiração de glória. Se nós, homens, não entregamos tarefas importantes senão a quem sabemos capaz de executá-las satisfatoriamente, muito menos os Espíritos Superiores confiariam sua Mensagem – tão decisiva para o progresso da Humanidade – a um homem qualquer que não estivesse a altura moral e intelectual de transmiti-la dignamente ao Mundo.
– Muito bem! – aparteou BAUDIN.
– Concordo, ainda, que O LIVRO é apenas a primeira página da verdadeira ‘Filosofia dos Espíritos Superiores’. Conheço-lhe o texto, em sua maior parte, por ter ouvido, atentamente, em nossas sessões, a leitura periódica de seus capítulos principais. Ao demais, pelo hábito inveterado de ler quanto se escreve ao revés e a favor do Magnetismo e do ‘Spiritualisme’, tenho algum conhecimento da literatura nacional e estrangeira sobre tais matérias.
Creio estar um pouco habilitado, pelo estudo teórico e prático das duas ciências, a opinar sobre o valor da obra, hoje publicada. Afirmo, sem receio de exagerar: Se o Mundo ficar apenas com essa ‘primeira página’ da sabedoria dos grandes Espíritos, a Humanidade, só pel’O LIVRO’ se poderá livrar das trevas em que se acha mergulhada a respeito da vida no Além.
– De acordo, falou BAUDIN.
– Sou testemunha que o ilustre Audor d’O LIVRO não recorreu a nenhum documento, a nenhum informe pessoal, a nenhum livro similar mas, somente, aos ensinos colhidos, diretamente por ele, nas sessões especiais do sr. BAUDIN e do sr. JAPHET, e às inspirações que recebeu nesta casa amiga, vindas em grande parte, do Espírito VERDADE.
Sem dúvida, a Reforma Religiosa do Mundo, é a mais importante, de quantas se vão operar fundadas nela, inspiradas pelos Espíritos missionários, prepostos por DEUS para o levantamento moral, social e científico da Humanidade. Esse aviso revelador, que nos apresentou o Professor sob as veste morais do seu alto sacerdócio, foi dado há precisamente um ano, em abril de 1856, e, daí por diante, em várias oportunidades, sobretudo na ausência do sr. RIVAIL nos foi confirmado. Os Espíritos, quer na casa do senhor BAUDIN, quer na do senhor JAPHET, quer na minha, quer, enfim, na de quase todos os prezados companheiros que me ouvem, jamais desmentiram ser o senhor RIVAIL o homem ‘escolhido’ para a alta e santa missão que começa hoje a desempenhar.
– Muito bem! – sustentou BAUDIN.
– APOIADO! – acrescentou JAPHET.
– Minha indiscrição não passa, portanto, de segredo de Polichinelo, aparteou CARLÓTTI.
– A exemplo do sr. CARLÓTTI, saúdo o Professor RIVAIL como Missionário.
Palmas. Aplauso geral.
Solicitado por alguns, BAUDIN levantou-se e disse:
– Não sei fazer discurso e confesso-lhes o constrangimento de falar após oradores consumados.
– Mas estamos em família, diz RIVAIL. Entre Irmãos da mesma Crença.
– Entre camaradas do mesmo batalhão, aduziu CARLÓTTI.
– Bem sei, continuou o orador. Não me atrevera, entretanto, se não me sentisse no dever social de agradecer ao Professor as expressões de amizade e carinho dirigidas à minha família. Desejo, outrossim, acrescentar alguns informes, ignorados de muitos, para completar as narrativas históricas que tivemos a alegria de ouvir. Contando fatos, fico mais à vontade, pois tiro à minha palavra o caráter de discurso.
O sr. BAUDIN, continua.
– Numa noite, inesperadamente, disse-nos ZÉPHYR: abro aqui um adendo para esclarecer aos que não conhecem esta história, foi esse o apelido dado ao nosso Espírito Familiar, porque, interrogado a respeito dum nome pelo qual o pudéssemos evocar, respondeu-nos: – “Chamam-me pelo que sou: o Zéfiro da VERDADE. Anuncio a próxima descida dos eflúvios celeste que a VERDADE irradiará pelo Mundo”.
– “Vocês irão brevemente para Paris. BAUDIN arrumará os seus negócios; Émile entrará na Escola Naval; Caroline e Julie tomarão professoras mais competentes e... encontrarão seus noivos; e, eu, ZÉPHYR, procurarei contato com um velho amigo e chefe desde o ‘nosso’ tempo de Drúidas”. Naquele instante, nem por sonhos, cogitávamos de vir à França. Meus negócios e afazeres exigiam assídua vigilância pessoal. A partir dessa comunicação espiritual, nosso desejo de vir ao continente se tornou contínuo, crescente, obsidiante. Poucos dias depois do aviso de ZÉPHYR chegou-me, de Paris, uma proposta de negócio que me ensejava essa viagem. E aqui chegamos em abril de 1855, há dois anos justos. Depois desta exposição, verdadeira maçada para Vocês...
– Não apoiado! – aparteou CARLÓTTI. Interessantíssima.
– Ao contrário! – afirmou RIVAIL. Muito curiosa e instrutiva. Eu ignorava tais pormenores.
Claude Joseph Rouget de Lisle,(1760 - 1836).La Marseillaise. Hino da França, 1792. |
– ... podem os bons amigos que me ouvem aquilatar do valor dado por nós ao episódio seguinte: Certo dia de sessão, ZÉPHYR se fez esperar um pouco e Caroline, com os dedos sobre a ‘Tupia’, aguardava-o cantarolando A Marselhesa. Ao se manifestar, o Espírito começou a bater com o bico do lápis sobre a ardósia, o ritmo do Hino Nacional Francês, com a acompanhar a Menina, que assim entusiasmada, entrou a cantá-lo em voz alta, em cooperação com Julie. Nós acompanhamos em coração a marcha triunfal e, terminado o último verso, o lápis escreveu: – “Nosso dia de glória já chegou”. Não compreendendo o alcance da preposição, que permitia vários sentidos, pedi a ZÉPHYR se explicasse. E o ‘Roc’, rabiscou – “Vamos ter afinal o convívio de nosso velho Chefe Druídico”. Perguntei ao Espírito: – “Aquele que Você esperava encontrar em Paris”. Resposta: – “Sim, ele mesmo, em pessoa. Você vai trazê-lo aqui. Caroline vai atraí-lo...”. nosso guia gostava de pilheriar. Supusemos que seria algum ‘pretendente’ da Menina. Insisti: – “Pode anunciar-me o nome dele para meu governo?”. E o ‘Roc’ escreveu, destacando, sílaba por sílaba, entre hífens: – “AL - LAN - KAR - DEC”. O nome era tão estranho que continuamos a duvidar da seriedade da comunicação. Por isso, perguntei: – “Arabismo ou pilhéria?”. Resposta: – “A Verdade”. Quando, dias depois, tive a satisfação de convidar Monsieur RIVAIL a frequentar nossos trabalhos espirituais, eu estava absolutamente longe de imaginar que ia franquear minha casa humilde ao antigo Pontífice Druídico que ele foi. Parece-me, portanto, caros amigos, em face de tais fatos, não haver ‘precipitação’ nenhuma em CARLÓTTI quando considera, desde já, o Professor RIVAIL, como um missionário.
A sociedade aplaudiu o orador com carinhosa salva de palmas.
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