A mente de cada Ser é o seu Algoz e Juiz! |
A
gênese de Allan Kardec diz que “se o
homem agisse sempre de acordo com as leis de Deus evitaria para si os males
mais amargos e seria feliz sobre a terra”. No capítulo sobre encarnação diz
que quando o espírito reencarna é para evoluir, que as várias encarnações devem
fazer o ser crescer. Portanto a ideia de que provas terríveis e dores
insuportáveis são indispensáveis para o indivíduo não é espírita.
Mesmo
o repórter André Luiz reconhece em alguns de seus livros formas melhores de evoluir;
dizendo sempre que o ser constrói seu destino, admite que o homem é quem
complica sua encarnação.
Pode
haver evolução sem grandes e terríveis dores? Pode e deve. A evolução deve ser
um ato de amor. Se nos seres inferiores procuramos educar nossos filhos com
amor, quão maior será o esforço do plano espiritual superior para nos conduzir
com misericórdia, compreendendo a nossa fragilidade. Onde o espírita
desenvolveu seu sadismo e masoquismo, pedindo sofrimento? Em várias obras
espíritas os heróis pedem a dor e seus olhos brilham intensamente quando são
atendidos. Por quê? É criação nossa a imagem de um Deus cruel que nos arrasta a
provas horríveis, esperando que nos despedacemos entoando hinos de glória a seu
poder. Que Deus absurdo, herança do paganismo, do judaísmo, do cristianismo que
deturpamos! O Criador sabia de nossas inferioridades, como exigiria mais do que
podíamos dar? As leis disciplinares existem em toda a natureza, porém são leis
de compreensão. O Deus vingativo é criação nossa. Os resíduos de um passado
escuro, a ignorância que nos envolve é a responsável por permanecermos
amarrados às encarnações difíceis. No século 20 o homem deveria estar apto para
evoluir com mais tranquilidade. Mas sua visão antropomórfica do universo o
impede; somos nós que exigimos para nós o cálice amargo. Somos os juízes que
não perdoam. E o que é pior: em reencarnando, trazemos dentro de nós um
tremendo complexo de culpa que faz com que nos flagelemos e iniciemos difíceis
processos obsessivos. O espiritismo, como elemento libertador, deve fazer o ser
romper com as amarras dos séculos aprendendo a caminhar com alegria. Lutemos
contra o sofrimento. Vamos usar nossa inteligência para atenuarmos nossas
provas.
Abaixo
a posição deprimente do ser que se estira no chão, julga-se um criminoso e
brada pelo castigo. Todos erramos no tempo e no espaço. Ninguém pode acusar
ninguém. Tenhamos tolerância, tenhamos caridade também com nossas
inferioridades. Somos criminosos igualmente necessitados de amor. Tenhamos a
certeza de que Deus nos perdoa sempre. Jesus exemplificou isso quando contou a
história da mulher pecadora. Ele disse: “Teus
pecados te são perdoados; vá e não peques mais”. Jesus não disse que
precisaria sofrer, penar, se arrastar pela terra chorando para ser perdoada.
Nós é quem criamos essa imagem infantil de um Deus que, se não mais condena a
um inferno eterno, é igualmente rancoroso, pois exige que o ser desconte seus
erros suando e chorando. É o mesmo velho de barba branca que nos expulsou do
paraíso ameaçando com sofrimentos incríveis. É o mesmo Deus que no paganismo
aparecia na forma múltipla de deuses vingativos. A ideia continua no
espiritismo e deve ser extirpada como veneno que nos tem impedido a
tranquilidade na Terra.
Por
que exigimos para nós a lei do olho por olho, dente por dente? Porque devido a
nossa inferioridade não conhecemos forma melhor de correção de nossas dívidas;
como poderíamos evoluir auxiliando o próximo, se ainda somos excessivamente
egoístas, comodistas, rancorosos e vingativos? Poderíamos caminhar à semelhança
de São Francisco de Assis? Teríamos a capacidade de realizar a obra magnífica
de Gandhi? Só sabemos pagar através da dor. Outrora sacrificávamos os animais,
os filhos, as donzelas mais bonitas da tribo. Hoje tentamos agradar a Deus com
nosso próprio sacrifício; julgamos que homenageamos Deus nos punindo,
realizando jejuns sexuais, evitando a carne e o cigarro. Que Deus ilógico,
absurdo, seria esse a se preocupar com atitudes exteriores? Jeová já dissera
aos hebreus: “Misericórdia quero e não sacrifício”. Como entender as leis
disciplinares se não entendemos sequer de nós mesmos? Como desenvolvermos
condicionamentos que nos permitam melhores formas de pagamento se deturpamos as
ideias melhores que religiões cristalinas trazem até nós? Intolerantes, só
entendemos leis rígidas que exigiriam séculos de sofrimento por erros
momentâneos. Cruéis, só enxergamos crueldade nas leis de ‘ação e reação’.
Esquecemos que toda lei tem atenuantes, desconhecemos a força de nosso
pensamento que pode plasmar formas mais suaves de desenvolvimento espiritual.
Dizemos que Deus é amor, mas na verdade o tememos. Se antes o medo era o
inferno agora foi substituído pelo medo do umbral, da reencarnação dolorosa.
Até quando caminharemos tangidos pelo medo? Quando desenvolveremos a virtude, o
prazer de agir de forma correta?
Jesus
exemplificou a importância de nossos pensamentos quando libertava os indivíduos
de suas doenças induzindo-os à reação orgânica através das sábias palavras:
"Teus pecados te são perdoados"; nesse instante havia não só a ação
curadora dos fluidos curadores de Jesus, mas também a ação da mente do
indivíduo que produzia a cura. Quando cura a mulher hemorrágica diz: “Tua fé te salvou". O evangelho nos
explica que se o indivíduo tiver fé agirá como um ímã atraindo as melhoras, a
saúde, a atenuação de suas provas. Jung nos explica como o complexo de culpa
desequilibra o ser, provoca doenças, angústias; impede de crescer. O livro dos
espíritos diz que: "Nenhuma obsessão resiste a uma vontade firme”.
Muitas vezes o ser, aceita a ação de entidades igualmente inferiores por se
sentir culpado e deseja, nem sempre conscientemente, a punição, o castigo. O
ser plasma, exige sofrimento e dor. Muitas vezes, inapto a suportar o
sofrimento, incide em outros erros e vai complicando cada vez mais suas
encarnações. Como a caminhada seria mais fácil se o ser fosse consciente de
seus erros e procurasse saná-los auxiliando o próximo, sacrificando-se até, se
o desejasse, numa forma útil. Haveria então crescimento espiritual. A
autoflagelação que praticávamos em outras épocas com o chicote, e que
continuamos a realizar com sacrifícios desnecessários, não nos auxiliou muito
em nossa caminhada.
O
cônjuge que possui um companheiro difícil deve auxiliá-lo a crescer; há desvantagem
dupla se o indivíduo aceitar todos os maus tratos, todas as desconsiderações em
prol de uma evolução que seria inexistente. Os pais que sofrem incrivelmente
com os filhos e não tentam auxiliá-los com energia e amor na realidade não os
amam, são apenas comodistas ou procuram a evolução numa forma errada pois é uma
tentativa egoísta de evolução. É obrigação de cada um contribuir para a
evolução de seu próximo. Despertar em cada um a ideia de que seus direitos
terminam onde começa o direito do próximo. O espiritismo não prega a
acomodação, a omissão. O espiritismo é a utilização da razão; como tal nos
ensina a nos utilizarmos sempre da nossa inteligência para diminuirmos os
nossos problemas, para atenuarmos nossas provas, para com energia e amor auxiliarmos
os que estão ao nosso redor a também evoluírem. A filosofia espírita não prega
a dor, mas o amor.
Por Heloísa Ferraz
Pires
FONTE:
Parabéns e obrigada pelas palavras. Essa realidade da culpa está muito presente em varias religioes no Brasil, herança de uma forma ultrapassada de espiritualizar-se. Não é facil se libertar dessa tradição danosa.
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