18 de abril de 1857, continua...7

Fitando a Sra. DE PLAINEMAISON disse RIVAIL:

– Estava presente, ouvindo nossa palestra, essa bondosa Amiga que teve a gentileza, ato contínuo, de convidar-me para sua próxima sessão de ‘Mesa Rotante’, estendendo o convite a Gabi. Eu não podia, nem queria protelar mais a verificação do fato. Na terça-feira seguinte, 8 de maio de 1855, fomos Gabi e eu à residência fidalga de nossa Amiga, na Rue de la Grange Batelière 18. E ali testemunhamos, finalmente, os fenômenos espíritas pela primeira vez – dois anos depois de observados por muita gente em quase todos os pontos da França. 

Guerdião ou

Mesa Pé-de-Galo
Vimos, nesse dia, um gueridão de pinho girar numa das peanhas, andar e saltar como rã, tendo sobre si, no começo, uma cadeia de mãos em que tomei parte e, ao final, só as mãos da senhora DE PLAINEMAISON. Durante os trabalhos da ‘Mesa’ exerci intensa e indiscreta fiscalização dos assistentes. E convenci-me de que eram tão culpados quanto eu. Após essa mostra, por si só bastante para produzir num homem da minha fibra, infenso à Metafísica, forte abalo, sentamos, meia dúzia de pessoas, entre as quais Gabi, à volta da mesma mesinha, formando, sobre ela, nova corrente de dedos. Depois de curtos minutos a ‘Mesa’ ergueu e desceu um dos pés e principiou a bater com ele, rapidamente, no soalho, os sinais convencionados, de ‘sim’ e ‘não’ e das letras do alfabeto, para formar frases.
               
            Somos pois, Gabi e eu, gratíssimos à fina gentileza de Mme. DE PLAINEMAISON, a quem devemos nossa iniciação espíritica. Foi ela nosso primeiro médium de manifestação objetivas e o derradeiro elo da corrente que me amarrou ao cais seguro do Espiritismo.

A sra. DE PLAINEMAISON, de natureza sensível, levou o lencinho de renda aos olhos marejados.

O orador falou ainda:

– Tudo na ordem da Natureza se coordena segundo sábio Desígnio da Providência. FORTIER, CARLÓTTI, Madame ROGER, PÂTIER e a Senhora DE PLAINEMAISON foram os liames indispensáveis à minha amarra ao porto da Verdade. Malgrado, porém, a boa intenção de Mme. DE PLAINEMAISON, que tudo fez em sessões sucessivas durante três meses para me facilitar as observações, eu encontrava, em sua casa fidalga, forte embaraço ao estabeleciemento dum plano de estudo sistematizado como eu desejava empreender.  Sem dúvida, ali aprendi muitíssimo. Ali encontrei os primeiros transeuntes invisíveis de Outro Mundo, que me deram notícias da vida no Além-Túmulo. Ensinaram-me muita coisa não só quanto à teoria, mas sobretudo, quanto a prática das evocações.
               
            Vendo meu interesse pela mediunidade de Caroline, que acionava a Corbelha Escrevente em casa de Madame DE PLAINEMAISON, o sr. BAUDIN, com a lhaneza cativante que o distingue, convidou-me a frequentar suas sessões de quartas e sábados. Gabi e eu, logo no dia seguinte, comparecemos na Rue de Rochechouart 7, onde então, residia a família BAUDIN. Isso aconteceu numa inesquecível quarta feira, 1° de agosto de 1855, três meses justos após minha estréia no Espiritismo.

O Professor deu uma pausa e olhando aos ouvintes, enquanto levava o castiçal a boca, após alguns segundos, iniciou dizendo:

– Em casa dos sr. BAUDIN conheci os bons amigos e senhores CANU, LECLERC e CLÉMENT e suas respectivas senhoras, todos médiuns. Foi o sr. LECLERC a mão que me levou, em janeiro do ano passado, à casa do sr. JAPHET, à Rue Tiquetonne 14, onde me foi dado estimar, além desse ilustre Amigo, a sua digníssima filha Ruth Celine. Aí também, fiquei conhecento pessoalmente, um dos Pioneiros do Espiritismo na França, o notável Magnetista, sr. ROUSTAN, que só de nome, eu conhecia e que nos honra com sua presença.

– Obrigado, o honrado sou eu, diz ROUSTAN.

– Os senhores JAPHET e ROUSTAN ajudaram-me bastante com sua longa experiência. Puseram-me à disposição seus arquivos. O exame de numerosas comunicações, alí encontradas, convenceu-me de que os princípios gerais já registrados, por mim,  na casa do sr. BAUDIN, com os quais organizara O LIVRO DOS ESPÍRITOS, eram os mesmos sustentados nas sessões da Senhorita Ruth, apenas com a diferença de estilo. Essa conformidade de ensinança levou-me, mais tarde, em meados, do ano passado, a proceder à revisão da obra em casa do sr. JAPHET, ouvindo os Espíritos,  por intermédio de sua gentilíssima filha. Esse trabalho foi empreendido em junho e concluído em dezembo de 1856, sempre numa atmosfera de boa compreensão e grande generosidade da parte do Grupo dirigido pelo ilustre Amigo sr. ROUSTAN.

Depois de concluída a revisão, recorri, a conselho dos Guias, a outros médiuns, a fim de me confirmar, em certos pontos mais difíciesis, por inovadores. Foi então, que além dos Senhores JAPHET e ROUSTAN, médiuns intuitivos, me prestara relevantes atenções a Sra. CANU, sonâmbula inconsciente; seu marido, médium falante; Mme. LECLERC, médium escrevente; a Sra. CLÉMENT, médium falante e vidente; a Srita. Aline CARLÓTTI, também falante e escrevente; Mme. DE PLAINEMAISON, que se tornou, ultimamente, auditiva e inspirada, e Madame ROGER a clarividente notável. Se, para a elaboração d’O LIVRO me limitei a ouvir os Espíritos, mais particularmente, por intermédio de Caroline e Julie, tive, na revisão e controle da obra, o concurso de mais de dez médiuns, cujo caráter e desinteresse todos conhecemos de sobejo. Não tendo mediunidade própria, a Providência facilitou-me a incursão no Mundo Invisível através das faculdades anímicas de meus caros Amigos. Gabi e eu lhes agradecemos do fundo da alma.

– Nada que nos agradecer! – disseram alguns.


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