Naquela noite, alguns convidados seguiram para o bairro La Lorette, na Rue des martyrs, entraram por uma porta, sobre a qual se encontra, numa tabuleta preta de 30 X 20 cm., o número 8 pintado a óleo, branco. Subiram ao segundo andar, aonde realizou-se a recepção preparada pelo casal RIVAIL.
O pequeno apartamento comportava, a rigor, vinte pessoas e, por isso, limitara-se o número de convidados. A família BAUDIN foi a primeira a chegar. Clémantine, esposa de Émile Charles BAUDIN, contou a RIVAIL a alegria das duas filhas quando, por volta das cinco da tarde, cada qual recebera um exemplar d’O LIVRO com oferenda do Autor:
– Nunca lhes acontecera antes uma tal distinção. O senhor foi muito gentil; deixou-as sensibilizadas.
A menina mais velha atalhou, sorrindo:
– Obrigada pelo presente, Professor. Quanta bondade a sua! Andava ansiosa por ver impresso O LIVRO. Jamais imaginei levasse tanto tempo na tipográfia.
– Quase quatro meses, replicou RIVAIL. Mas hoje tudo é demorado e a obra foi composta fora de Paris, em oficina modesta e cheia de serviço.
– Agora, continuou a moça, sinto-me como aliviada dum dever, como aprovada num exame.
RIVAIL mirou-a com respeitoso afeto. Ela o olhava confiante, como a um mestre venerável e estimado. Nos seus dezoito anos, Caroline – a quem O LIVRO devia tanto – não avaliava, sequer por sonho, a gratidão do Autor. E era ela quem lhe agradecia um simples gesto de obsequiosidade!
– Agora já posso casar-me sossegada em julho...
RIVAIL, exprimindo sinceridade e paternal carinho, respondeu-lhe:
– Agora, pode! Sua tarefa está finda e você, aprovada com distinção. Deus lhe dará neste e noutro mundo o prêmio da trabalhadora desinteressada e útil.
– E você, filhinha, vai também casar-se tão moçinha?
– Espero casar-me em outubro, ao completar 16 anos. Respondeu Julie.
O senhor BAUDIN, se aproximava:
– Sei que não tev tempo sequer de abrir O LIVRO. Que tal, porém o título?
– Explêndido! Não podia ser mais feliz nem mais sugestivo. Foi, entretanto, surpresa para mim. Supunha ia conservar o primitivo de ‘Religião dos Espíritos’.
– Mudei de ideia. A Censura poderia implicar-se com esse título. Por outro lado, os Guias me haviam dito ser O LIVRO apenas o ‘primeiro’ capítulo da Religião Espírita. O título primitivo seria, pois, impróprio.
– O novo nome exprime bem a procedência d’O LIVRO. Os Guias sempre nos disseram que, na essência, a obra era deles. Mas...
– E, realmente, o é. Fiz questão de frisar essa procedência transcendente desde as primeiras linhas, dando a César o que é de César. Portanto, sob esse ponto de vista, O LIVRO é de fato...
– Dos Espíritos, completou BAUDIN. De pleno acordo. Mas...
– Perdoe-me, caro amigo! Permita-me uma explicação. O título presta-se bem a essa interpretação; é talvez, a primeira ideia que acode ao leitor. É mesmo, aquela que me veio à mente quando o concebi. Contudo, esse título tem duplo entendimento: Um, aparente; outro, real. Na aparência, O LIVRO vem DOS ESPÍRITOS. É o que todos pensarão, de pronto, como o fez você. No fundo e na realidade o título significa que O LIVRO trata DOS ESPÍRITOS.
– Compreendo. Duplo sentido, o visível e o oculto, servindo para explicar a procedência e o objetivo da obra. Nesse caso o nome é ótimo.
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