18 de abril de 1857, continua...5

Os convidados reunidos, RIVAIL colocou-se de pé, junto à lareira da sala de jantar, ponto de onde podia avistar toda a saleta de visitas, e parte de seu escritório. Colocou o pince-nez, bateu duas palmadas para obter silêncio e disse, sorridente, como um mestre a seus alunos:
Pince-Nez

– Quero explicar-lhes o objetivo principal desta recepção.

Houve um movimento geral. Uns se aproximaram do orador, outros se puseram em posição melhor para o ver e escutar. As mulheres calaram-se, e sentaram-se as que estavam de pé. Tirando o pince-nez, pois ia falar de improviso, continuou sob a atenção de todos:

– Gabi e eu, neste dia em que vem a lume O LIVRO DOS ESPÍRITOS, queremos testemunhar nosso profundo reconhecimento aos que, duma e doutra maneira, concorreram para a formação e lançamento dessa obra. E justificar, porque a mesma foi publicada sob minha exclusiva responsabilidade, até mesmo editorial, e com pseudônimo. Gabi e eu ficamos devendo muitos obséquios a quase todos que me ouvem. 

Em primeiro lugar, pelos grandes serviços prestados à formação d’O LIVRO, cito as prezadas famílias BAUDIN, ROUSTAN e JAPHET. Elas proporcionaram-me, com extrema gentileza, os ambientes indispensáveis ao recebimento dos ensinos ora compendiatos. Estiveram à altura da missão espiritual de seus três núcleos, o da Rue Lamartine, 21, Rue des Martyrs, 19 e o da Rue Tiquetonne, 14. Destaco, nessas queridas famílias, para um agradecimento particular, as meninas Caroline, Julie e Ruth Celine. Pondo de lado os prazeres próprios da mocidade e sacrificando horas de estudo e afazeres doméstico, elas se prestaram, durante um ano, com o máximo desinteresse material e a melhor dedicação espiritual, ao fatigante uso de seus dotes mediúnicos.

Rue Larmatine, Paris.
Rua da Família BAUDIN.
Rue des Martyrs, Paris.
Rua da Família ROUSTAN.
Rue Tiquetonne, Paris.
Rua da Família JAPHET.
Como aqui estão amigos novos os DUFAUX, incientes desse fato, faço empenho em declarar, de voz alta, que devo à mediúnidade de Caroline e de Julie BAUDIN a essência dos ensinos espíritas contidos em O LIVRO e, à mediunidade de Ruth Celine JAPHET, os esclarecimentos complementares que me permitiram aceitar alguns pontos, revessos à primeira inspeção. Por sugestão dos Guias, recorri a outros médiuns, estranhos alguns, aos três referidos grupos. E o fiz com o intuito de robustecer, pelo controle de muitos Espíritos, as teses que me pareciam mais arrojadas e inovantes. Assim, se devo favores a mais de dez médiuns, que nomearei daqui a pouco. A essas três meninas fiquei devendo os maiores.

Mas O LIVRO é lançado hoje com minha autoria exclusiva, sob um pseudônimo céltico, sem nenhuma referência às pessoas Amigas que tanto me ajudaram. É para lhes explicar a razão dessa estanha atitude que temos, Gabi e eu, a honra de os reunir em nossa casa.

A curiosidade intensificou a atenção geral, enquanto o Professor ingeria um pequeno gole de licor.

O orador prosseguiu:

– Resolvi afrontar, sozinho, as ondas de oposição que O LIVRO vai suscitar, porque, dum lado, pela revelação particular, sei que, sobre essa obras, desabará a tormenta dos interesses feridos, soprarão os ventos da ira fanática e se quebrarão, com estronto, arrastar ao inevitável infortúnio as prezadas pessoas que concorreram para a elaboração da obra. Por outro lado, assumindo sozinho a responsabilidade, quer da forma, quer do fundo, poderei a qualquer momento, mais fácil e prontamente, defender O LIVRO, corigi-lo e melhorá-lo sob novas inspirações, sem o risco duma eventual divergência de pontos de vista.

Sinais de assentimento em vários semblantes e de compreensão em todos.

– Quero, agora, referir-me a outros companheiros que contribuiram, como elos dum Desígnio Providencial, para o encaminhamento de meus passos na senda do Espiritismo.

O orador fixou um homem, que estava de braços cruzados à porta do escritório, cofiando, um tanto distraído, o cavanhaque pontudo. E tirou-o da abstração, dizento:

– Citarei, de início, meu velho amigo e companheiro FORTIER. Que numa tarde de dezembro de 1854, quis rever o velho camarada e o encontrei preparando-se para uma sessão de Sonambulismo a realizar-se em casa do sr. ROGER. Teve a amabilidade de convidar-me. A sra. ROGER era, então, justamente afamada como sonâmbula lúcida, quanto hoje o é como médium vidente.

Madame ROGER agradeceu, sensibilizada. O orador avançou: 


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