Os convidados reunidos, RIVAIL colocou-se de pé, junto à lareira da sala de jantar, ponto de onde podia avistar toda a saleta de visitas, e parte de seu escritório. Colocou o pince-nez, bateu duas palmadas para obter silêncio e disse, sorridente, como um mestre a seus alunos:
– Quero explicar-lhes o objetivo principal desta recepção.
Houve um movimento geral. Uns se aproximaram do orador, outros se puseram em posição melhor para o ver e escutar. As mulheres calaram-se, e sentaram-se as que estavam de pé. Tirando o pince-nez, pois ia falar de improviso, continuou sob a atenção de todos:
– Gabi e eu, neste dia em que vem a lume O LIVRO DOS ESPÍRITOS, queremos testemunhar nosso profundo reconhecimento aos que, duma e doutra maneira, concorreram para a formação e lançamento dessa obra. E justificar, porque a mesma foi publicada sob minha exclusiva responsabilidade, até mesmo editorial, e com pseudônimo. Gabi e eu ficamos devendo muitos obséquios a quase todos que me ouvem.
Em primeiro lugar, pelos grandes serviços prestados à formação d’O LIVRO, cito as prezadas famílias BAUDIN, ROUSTAN e JAPHET. Elas proporcionaram-me, com extrema gentileza, os ambientes indispensáveis ao recebimento dos ensinos ora compendiatos. Estiveram à altura da missão espiritual de seus três núcleos, o da Rue Lamartine, 21, Rue des Martyrs, 19 e o da Rue Tiquetonne, 14. Destaco, nessas queridas famílias, para um agradecimento particular, as meninas Caroline, Julie e Ruth Celine. Pondo de lado os prazeres próprios da mocidade e sacrificando horas de estudo e afazeres doméstico, elas se prestaram, durante um ano, com o máximo desinteresse material e a melhor dedicação espiritual, ao fatigante uso de seus dotes mediúnicos.
Rue Larmatine, Paris. Rua da Família BAUDIN. |
Rue des Martyrs, Paris. Rua da Família ROUSTAN. |
Rue Tiquetonne, Paris. Rua da Família JAPHET. |
Mas O LIVRO é lançado hoje com minha autoria exclusiva, sob um pseudônimo céltico, sem nenhuma referência às pessoas Amigas que tanto me ajudaram. É para lhes explicar a razão dessa estanha atitude que temos, Gabi e eu, a honra de os reunir em nossa casa.
A curiosidade intensificou a atenção geral, enquanto o Professor ingeria um pequeno gole de licor.
O orador prosseguiu:
– Resolvi afrontar, sozinho, as ondas de oposição que O LIVRO vai suscitar, porque, dum lado, pela revelação particular, sei que, sobre essa obras, desabará a tormenta dos interesses feridos, soprarão os ventos da ira fanática e se quebrarão, com estronto, arrastar ao inevitável infortúnio as prezadas pessoas que concorreram para a elaboração da obra. Por outro lado, assumindo sozinho a responsabilidade, quer da forma, quer do fundo, poderei a qualquer momento, mais fácil e prontamente, defender O LIVRO, corigi-lo e melhorá-lo sob novas inspirações, sem o risco duma eventual divergência de pontos de vista.
Sinais de assentimento em vários semblantes e de compreensão em todos.
– Quero, agora, referir-me a outros companheiros que contribuiram, como elos dum Desígnio Providencial, para o encaminhamento de meus passos na senda do Espiritismo.
O orador fixou um homem, que estava de braços cruzados à porta do escritório, cofiando, um tanto distraído, o cavanhaque pontudo. E tirou-o da abstração, dizento:
– Citarei, de início, meu velho amigo e companheiro FORTIER. Que numa tarde de dezembro de 1854, quis rever o velho camarada e o encontrei preparando-se para uma sessão de Sonambulismo a realizar-se em casa do sr. ROGER. Teve a amabilidade de convidar-me. A sra. ROGER era, então, justamente afamada como sonâmbula lúcida, quanto hoje o é como médium vidente.
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