As nossas guerras não se acabam após a morte! |
Muitas vezes o tema desperta interesse em pessoas cuja história pessoal ou familiar não tem qualquer
passagem por guerras. No entanto, se pararmos para refletir, talvez
identifiquemos, em nós mesmos, atitudes “belicosas” em relação a situações ou
pessoas, na forma como lidamos com elas ou com problemas que se nos apresentam.
Várias guerras foram
consideradas justas, a seu tempo, por agressores e agredidos, e muitas pessoas
aderiram com entusiasmo – a exemplo da Primeira Guerra Mundial. Apesar do nosso
lento progresso moral, hoje a guerra é vista, na maior parte do mundo, como
atrocidade a ser evitada.
Mas quanto ainda conservamos
da atitude que leva à guerra? Qual seria nossa atitude, por exemplo, diante de
um manifestante político mascarado e potencialmente violento? Oramos por ele?
Ou sentimos raiva ou medo, e reagimos violentamente? É difícil nos mantermos
equilibrados diante de uma situação como essa, mas talvez combatendo as causas
– nossos instintos de natureza animal e imperfeições espirituais – possamos
minimizar os efeitos.
Do ponto de vista da
reencarnação, existe uma alta probabilidade de já termos participado de
guerras, e de termos sido algozes ou vítimas – ou ambos! As experiências
vividas ficam inconscientemente marcadas e influenciam nossas ações e reações.
Na Segunda Guerra Mundial, por exemplo, foram 55 milhões de mortos, entre civis
e militares.
O Livro dos Espíritos nos ensina:
Pergunta
742:
O que leva o homem à guerra?
Resposta: “Predominância da natureza animal sobre a
natureza espiritual e saciedade das paixões. No estado de barbárie, os povos só
conhecem o direito do mais forte; é por isso que a guerra constitui para eles
um estado normal. À medida que o homem progride, ela se torna menos frequente,
porque ele lhe evita as causas; e quando ela é necessária, ele sabe fazê-la com
humanidade.”
Pergunta
743:
A guerra desaparecerá um dia da face da Terra?
Resposta: “Sim, quando os homens compreenderem a
justiça e praticarem a lei de Deus; então, todos os povos serão irmãos.”
Pergunta
542:
Na guerra, a justiça está sempre de um lado; como é que Espíritos tomam partido
daquele que não tem razão?
Resposta: “Bem sabeis que há Espíritos que apenas
buscam a discórdia e a destruição; para eles, a guerra é a guerra; a justiça da
causa pouco lhes toca.”
Será que poderemos conservar
essas animosidades em outras vidas? Depende de quão sensíveis somos às
experiências vividas e da nossa capacidade de superá-las, portanto, da elevação
espiritual de cada um. Será que, com o esquecimento, ao reencarnar, recebemos
oportunidades de acabar definitivamente com elas? Raciocinando por essa lógica,
devemos estar atentos a essas oportunidades.
Em Nosso Lar, editado em 1944,
André Luiz descreve a preparação da colônia espiritual para o início da Segunda
Guerra, em 1939: “Nos primeiros dias de setembro de 1939, Nosso Lar sofreu,
igualmente, o choque por que passaram diversas colônias espirituais, ligadas à
civilização americana. Era a guerra europeia, tão destruidora nos círculos da
carne, quão perturbadora no plano do espírito”.
André Luiz descreve os
preparativos para o auxílio espiritual aos desencarnados e a grande mobilização
necessária, bem como a atitude dos Espíritos superiores: “Reconheci que os
Espíritos superiores, nessas circunstâncias, passam a considerar as nações
agressoras não como inimigas, mas como desordeiras e cuja atividade criminosa é
imprescindível reprimir”.
“Infelizes dos povos que se
embriaguem com o vinho do mal (…); ainda que consigam vitórias temporárias,
elas servirão somente para lhes agravar a ruína, acentuando-lhes as derrotas
fatais. Quando um país toma a iniciativa da guerra, encabeça a desordem na Casa
do Pai, e pagará um preço terrível”. “(…) nos acontecimentos desta natureza, os
países agressores convertem-se, naturalmente, em núcleos poderosos de
concentração das forças do mal. Sem se precatarem dos perigos imensos, esses
povos (…) embriagam-se ao contato dos elementos de perversão, que invocam das
camadas sombrias. Coletividades operosas (1) convertem-se em autômatos do
crime. Legiões infernais precipitam-se sobre grandes oficinas do progresso
comum (2) transformando-as em campos de perversidade e horror (3)”.
(1) Por exemplo, a sociedade alemã nos anos 30.
(2) A Ciência – incluindo a engenharia e a
medicina – a serviço da destruição.
(3) Remete à “banalidade do mal”, identificada
pela filósofa Hannah Arendt: agressores ficam desprovidos de qualquer
sentimento de culpa.
O plano espiritual reproduz o
ambiente terreno, mas a solução vem na forma de tolerância e tratamento de
igual para igual, sem as dissenções, o separatismo e a xenofobia que
caracterizam as relações que levam à guerra.
O Livro dos Espíritos novamente esclarece e
confirma:
Pergunta
749:
O homem é culpado pelos assassínios que comete na guerra?
Resposta:
“Não, quando ele é
constrangido pela força; mas é culpado pelas crueldades que cometa, e ser-lhe-á
levado em conta o seu sentimento de humanidade.”
As passagens sugerem os dramas
de consciência por que passa o espírito envolvido na guerra. Como evitar essas
situações? As respostas devem vir de nossa consciência e serem efetivadas pela
vigilância constante. Em “A caminho da luz”, Emmanuel nos conforta quanto ao
futuro, por mais improvável que possa parecer:
“O determinismo do amor e do
bem é a lei de todo o Universo, e a alma humana emerge de todas as catástrofes
em busca de uma vida melhor”.
“Ditadores, exércitos,
hegemonias econômicas, massas versáteis e inconscientes, guerras inglórias,
organizações seculares passarão com a vertigem de um pesadelo”.
“A vitória da força é uma
claridade de fogos de artifício”.
“Toda a realidade é a do
Espírito, e toda a paz é a do entendimento do reino de Deus e de Sua justiça.”
“Embora compelida a participar
das lutas (…), a
América está destinada a receber o cetro da civilização e da cultura, na
orientação dos povos porvindouros” (o
livro foi escrito em 1938, cerca de um ano antes do começo da Segunda Guerra).
“Nos campos exuberantes do
continente americano estão plantadas as sementes de luz da árvore maravilhosa
da civilização do futuro”.
Daí a nossa responsabilidade
de cumprir este desígnio – muitos de nós podemos ser antigos europeus,
orientais ou africanos, que, não por acaso, reencarnamos em uma terra de
tolerância racial e religiosa, distante geograficamente das regiões
conflagradas do mundo (e por isso com
relativa proteção). Esta missão é confirmada em “Brasil, coração
do mundo, pátria do Evangelho”, ditado pelo Irmão X.
Vejamos o bonito exemplo de
civilização que demos na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, quando recebemos com
alegria e respeito povos de todo o mundo em paz e relativa segurança. Ainda que
de forma imperfeita, conseguimos dar um exemplo de hospitalidade e
fraternidade, tão necessário nos tempos conturbados em que vivemos.
Por João Fontoura
FONTE:
Nenhum comentário:
Postar um comentário