A religião e a pessoa chata

Religião é igual a chatice?

A proposta da religião, em si, segundo definem, é a de religar a pessoa a Deus, para aquele que acredita que algum dia o homem se desligou dele. O importante é que uma proposta de religação ou de sintonia com o Criador sempre é interessante e até indispensável para a vida do homem, porque o faz um indivíduo bom e digno, caso ele entenda a principal de todas as Leis, que é a Lei do Amor a si mesmo e ao Próximo.



Teoricamente a religião deve fazer isto, mas, em prática não é bem o que se vê por aí, ao longo de toda a história.

Quando eu tinha uma visão mais estreita de vida, uma concepção mais superficial, como jovem, eu ouvia falar de um tal Karl Marx que dizia que “A religião é o ópio do povo”, e ficava danado com esse tal de Marx, concebendo-o como algum “servo das trevas”, posto que, como a maioria das pessoas, eu fui criado dentro do ambiente religioso que, invariavelmente, castra a capacidade de raciocinar da pessoa, não permite que ela pense, questione e nem discuta nada com profundidade. Você tem que pensar como a sua religião lhe impõe e pronto, está acabado.

O agravante disto tudo é a constante ameaça do tal “castigo” de Deus, por um lado, e a “tentação” de Satanás por outro, que deixa a pessoa frágil e amedrontada, acomodando-se em deixar o seu cérebro atrofiado, a sua mente retardada e a sua capacidade de raciocinar praticamente nula.

Por outro lado, jovem inserido nas fileiras da Aeronáutica, fui também acostumado a entender que todo comunista e todo aquele que, pelo menos, era acusado de comunista, necessariamente era a representação do capeta e do mal.

Porém com o desenvolvimento mental optando pelo campo das ciências exatas, que nos convida à lógica e ao racional, reforçado pelo mergulho que dei no universo da informática, onde nada funciona se não tiver lógica, conclui que eu seria  ridículo, se permanecesse fantoche de conveniências religiosas e filosóficas, fossem elas quais fossem.

Foi aí que passei a perceber várias pessoas dignas, mesmo com o rótulo comunista, assim como dignas, decentes e honradas, mesmo com o rótulo de ateu, concluindo que rótulo não é garantia de caráter de ninguém e muito menos de evolução espiritual. Quanto mais fanática, mais danosa é a criatura.

Então passei a reler Karl Marx e perceber, então, o que ele queria dizer com a sua célebre frase. Não virei comunista, considero-o como um dos regimes mais bestas que existe na face da terra, mas passei a admirar várias citações de Marx assim como do Friederich Nietzche, aquele mesmo que, também, disse a bobagem de ter matado Deus. Uma bobagem dita não anula os grandes feitos de um homem.

Mas vamos lá.

Uma das coisas mais chatas que enfrentamos na vida é a convivência com a pessoa radical, seja ela de qual segmento for. A mente congelada de um homem é algo capaz de levá-lo até a matar um seu semelhante, pelo fato de não pensar exatamente igual a ele e inúmeros são os exemplos que constam na história da humanidade, em todos os tempos, inclusive nos atuais.

Quando assistimos notícias de que uma mulher pode ser presa e até levada ao apedrejamento porque se recusa a usar burca, mesmo em tempo de elevado calor, identificamos o supra-sumo do ridículo e da barbárie. O mesmo ocorre quando nos deparamos com alguém que elege um determinado livro como sendo sagrado, encerra-se ali toda a verdade absoluta e a infalibilidade e, a partir daí, passa a julgar como condenados todos aqueles que não comungam do mesmo pensamento.

Marx tem razão, quando diz que a religião é mesmo o ópio do povo, sobretudo quando esse povo não identifica importância no ato de raciocinar e de pensar com liberdade, o que o torna alienado, irracional e fanático.

Há alguns anos eu vi um cidadão falar, em Belém do Pará, que nossa Senhora de Nazaré é muito mais poderosa do que Nossa Senhora Aparecida, o que o expunha a um desconhecimento absoluto do que a sua amada igreja Católica ensina. Talvez achando que puxando o saco da padroeira da sua terra, em comparação com uma “outra”, que seria venerada por outras pessoas, ele se achasse prestigiado junto à santa local.

Observe bem as imagens e diga você: Qual a melhor? Qual a mais poderosa?

Outro, que se rotula Evangélico, durante algum tempo tenta me convencer de que a sua igreja é a condição única de salvação, e todas as outras, mesmo ostentando também o rótulo de Evangélicas e se conduzindo pelo mesmo livro, que é a Bíblica, numa das mais de 20 traduções para o Português, não têm valor nenhum. Salvação? só pela igreja dele.

A religião quando envolve a pessoa, em maioria, quando deveria transformá-la num ser melhor, mais compreensivo, amável e tolerante,  termina em transformá-lo em chato, inconveniente e até em insuportável, muitas vezes.

Alguns exemplos eu cito aqui, do religioso chato:

Puxa-saco de Deus – Na cabeça de muitos, Deus adora bajuladores e depende muito de gente que o “defenda”, aqui na Terra. Tem algumas orações que a gente ouve, na televisão e em algumas igrejas, que dá até pena de quem está proferindo, tamanho é o nível de bajulação ao Senhor.

Agora imagine o próprio Deus... eu falo no Deus que criou os homens e não no deus que os homens criaram... aquele que criou, continua criando e administra trilhões de galáxias, necessitar de amebas humanas para lhe defender, aqui na Terra, contra outras insignificantes amebas.
  
Arautos do masoquismo – São aqueles que não fazem o menor esforço para saírem do sofrimento, sob a argumentação que é através dele que a gente chega à evolução ou à salvação, como queiram.

Muita gente não sai para dançar, porque a religião condena; não pode sorrir, porque a religião impõe que ela seja “séria”, a mulher não pode colocar um maiô ou biquíni, porque a religião acha imoral; só vê maldade no esporte, no carnaval, na televisão, no cinema, nas festas e em tudo, porque a sua religião a restringe de tudo.

Tem gente que, pelo simples fato de alguém colocar um disco para tocar em casa, sendo músicas alegres, repudiam por acharem que se constitui como agressão ao Senhor. Se uma menina coloca um short, cria o maior caso, como se aquele traje representasse alguma imoralidade ou desrespeito ao Senhor. 

Sexo, por exemplo, é coisa pecaminosa, proibitiva, imoral, indecente, repugnante, obsessiva e deve ser evitado de todas as maneiras. Ora, será que pessoas que pensam assim, nasceram de chocadeira? Ou foi a cegonha que as trouxe no bico?

No meio espírita, muitas pessoas, equivocadamente, acham que estamos aqui para sofrer e para pagar, como se a Terra fosse uma penitenciária ou um vale de lágrimas. Entendimento absurdo, posto que o Espiritismo não ensina nada disto.

No meio católico, o momento considerado como mais importante é aquele que revive o sofrimento de Jesus e não os momentos de alegria dele. Há quem proteste, veementemente, com qualquer figura de Jesus sorrindo ou contra qualquer filme que o mostre sorrindo. A Globo mostrou um filme assim, e recebeu vários protestos do meio católico. Há católicos que até se martirizam, como aqueles que, na Semana Santa, agridem aos seus próprios corpos com chicotes com ferros na ponta, chegando a sangrar as costas.

Gente, vamos raciocinar: Auto sacrifício e mutilação, é algo agradável à Jesus? É agradável a Deus? A qual Deus?

Essas pessoas que vivem dentro de casa, se proibindo de tudo, se castrando em tudo e fazendo do próprio lar uma clausura, será que acham que estão sendo agradáveis à Deus, quando ao mesmo tempo, vivem eternamente infernizando a vida das outras pessoas, no próprio lar, como filhos, maridos, esposas e netos, com seu mau humor, sua chantagem emocional constante, suas queixas e suas condenações a tudo e a todos?

Será que elas não sabem que Deus está de olho na sua chatice, disposição para encrencas constantes, encheção de saco e perturbação aos seus entes mais próximos?

Alguém que nunca está em satisfação com nada e que é um constante poço de pessimismo e inconveniência para os outros, pode ter alguma coisa a ver com Jesus?

 Condenações às crenças alheias

As maiores agressões à humanidade foram promovidas exatamente pelos “cristãos”, e daí se pergunta: Será que a auto-rotulação de Cristão significa que a pessoa tem mesmo alguma coisa a ver com Jesus, o Cristo?

Uma pessoa que se dispõe a atacar crenças alheias, inclusive propostas de vida que tem como espelho maior o próprio Cristo, por causa de detalhezinhos que não são exatamente conforme ela vê, esquecendo de observar todos os demais pontos positivos em comum, tem alguma sintonia com o Cristo, o qual diz seguir?

Se eu condeno todos os Evangélicos, onde existem igrejas maravilhosas, pastores íntegros e fiéis dignos, tendo como referência apenas os mercantilistas da fé, que também se auto-rotulam evangélicos, que nível de inteligência tenho eu?

Que nível de inteligência tenho eu, também, ao condenar toda a igreja Católica, me apegando apenas ao fato de existirem padres sem vergonha e antigos inquisidores assassinos?

Você condenaria a Medicina, por causa dos noticiários que denunciaram os crimes de Hosmani Ramos, Roger Abdelmassih e outros médicos monstros?

Se existe tanto mal para a gente combater na Terra, como as drogas, a corrupção, a exploração do ser humano, os abusos de toda ordem, as guerras, as traições, as sabotagens, as falsificações inclusive de medicamentos, os roubos governamentais aos aposentados, o tráfico de influências, a riqueza ilícita, o aborto, o suicídio, o crescimento da cultura do homem bomba, os assassinatos encomendados, as poluições dos mares, dos rios e do meio ambiente que traz conseqüências terríveis à sobrevivência humana e animal, o desvio de dinheiro pelos políticos, o crescente assassinato de maridos para ficar com o dinheiro do seguro, as pessoas que matam por paixões, os infartos provocados dentro do lar pelos próprios parentes, os ódios e os rancores gratuitos e tanta coisa realmente mal e que precisa ser combatida, como posso eu ocupar o meu tempo em viver atacando a crença de um semelhante, só porque ele não crê cem por cento conforme eu creio?

Como posso ser eu tão imbecil, a ponto de esquecer 95% de pontos positivos, em uma crença, para julgar e condenar a outra só por causa dos outros 5% que, por mais que esteja em desacordo, não se constituem em ensinamentos maléficos, criminosos, destruidores ou que transgridam os valores verdadeiramente morais?

Religioso chato é uma praga, meu amigo e minha amiga. Ele pode até dizer que tem Jesus, mas na verdade só o tem da boca para fora, porque na essência, não tem a menor idéia de quem seja esse ser de verdadeira Luz e Paz.

Está inserido no universo dos que dizem “Senhor, Senhor!”, porque apenas diz.

Está inserido no universo dos falsos profetas, caiados por fora e podres por dentro.

É simplesmente um cego, com pretensão de guiar outros cegos.

Amém.  

                                 Por Alamar Régis Carvalho

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