Temos que chegar nisso, para pensar na existência? |
A
maioria de nós responderá que quer a cura. Por pior que seja a vida na Terra,
há sempre a esperança de que ela melhore.
Diz a mitologia grega que a semideusa
Pandora abriu a tampa de sua caixa indevidamente, e todos os males se
espalharam pelo mundo, só restando a esperança, a única forma de o homem não
sucumbir às dores e aos sofrimentos. Embevecido pela vida, o indivíduo não quer
a morte. Pode sofrer, mas se pudesse, perpetuaria seu corpo, como provam os
adeptos da criogenia.
Essa
ilusão o embala na viagem a caminho da morte, a etapa final da evolução
biológica, porque a morte e a escolha são as duas ocorrências das quais nunca
podemos nos evadir. A morte, esta famigerada personagem que amedronta e
aniquila com o rastro de dor por onde passa, deixando o manto da saudade
naqueles que ficam, é uma realidade necessária à renovação da vida; e a
escolha, que nos possibilita a liberdade de ação, como afirmou o Dr. Viktor
Frankl, psiquiatra judeu, sobrevivente do campo de concentração nazista de
Auschwitz e criador da Logoterapia, uma terapia para dar sentido à vida: Entre
o estímulo e a reação, há sempre a escolha.
E a
doença? É a manifestação, no nosso corpo, das mazelas que trazemos insculpidas
na alma, decorrentes de nossa conduta. A dor não é filha da Lei Divina, é
criação nossa. O corpo é o filtro que permite eliminar essas impurezas, por
isso devemos amar nossa vida de lutas e sofrimentos, sem reclamar, porque
constitui o meio para atingirmos a suprema felicidade para a qual todos fomos
criados. Porém, não soubemos ainda entrar na posse desse esplendor divino,
porque temos trocado, ao longo de nossas existências, pela escolha dos vícios
que corroem a alma: o orgulho, o egoísmo, a prepotência, a inveja, a cólera, a
preguiça, etc., pagando o preço pelas nossas decisões, no uso do livre-arbítrio
dado por Deus. Seremos o que fizermos de nossas vidas. Felizes ou desditosos.
No
momento determinado por Deus, surgiram os meios para eliminar a dor: em 1845, o
dentista norte-americano, Horace Wells, utilizou o óxido nitroso em operações
dentárias e, no ano de 1846, outro dentista norte-americano, William Thomas
Green Morton, numa experiência usando o éter para a extração de dentes, e a
retirada de um tumor, no Hospital de Massachussetts, aboliu a dor nas
cirurgias, criando os anestésicos. No ano de 1928, Alexander Fleming descobriu
a penicilina e utilizou-a com sucesso, no dia 6 de agosto de 1942, em Harry
Lambert, injetando-lhe o medicamento no fluido espinhal, para curar uma
meningite, dando início à era dos antibióticos no combate às doenças. E, para o
grande alívio da criatura humana, surgiram os analgésicos em imensa variedade
de sais, contribuindo para uma vida mais saudável.
A
cura é sempre a nossa rogativa principal, entretanto, perde sua importância
quando tomamos conhecimento da necessidade da doença no estágio em que
existimos. Todos somos doentes. Em alguns, a doença ainda não atingiu os nervos
sensoriais, mas ela está ali, esperando o momento oportuno para instalar-se.
Jesus
curou muitos enfermos pela Sua misericórdia. Os que estavam preparados, com o
seu carma extinto, ficaram isentos da doença. Os que não estavam,
posteriormente, tiveram-na de volta, já que traziam em si, seu germe psíquico.
Há uma passagem no Evangelho que relata essa situação, intitulada a cura de dez
leprosos. Jesus, no caminho para Jerusalém, passou por uma aldeia e saíram-lhe
ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e gritaram, dizendo: “Jesus,
Mestre, compadece-te de nós!” Jesus curou-os. Quando se viram sem a lepra,
correram em louca disparada para retomar as cidadanias e seus haveres. Apenas
um, dos dez, voltou para agradecer. Então Jesus lhe perguntou: “Não eram dez os
que foram curados? Onde estão os nove?” E disse-lhe: “Levanta-te e vai; a tua
fé te salvou”. Nós também somos assim. Quando estamos doentes ou com algum
outro problema, gritamos desesperados: “Jesus, Mestre, compadece-te de nós!”
Prometemos ser bons, ajudar o próximo, modificar nosso comportamento,
entretanto, tão logo recebemos a bênção, voltamos à mesma vida de outrora,
esquecendo nossas promessas e nossas boas intenções.
Como
a morte e a doença fazem parte do cenário terrestre, o alívio passa a ter um
valor preponderante em nossa jornada de Espírito falido na busca da Casa
Paterna, como nos ensinou o Pedagogo Incomparável, na parábola do filho
pródigo. Como é bom o alívio de nossas dores! Sejam essas dores físicas, sejam
psíquicas. No momento da aflição, no auge do desespero, nada pode ser melhor do
que o bálsamo divino que vem serenar nosso sofrimento. Jesus, o doce Rabi da
Galileia, nos prometeu esse alívio, e todas as suas promessas são cumpridas:
Vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai
sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração;
e achareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu
fardo é leve.
Quanto
à cura definitiva, esta pertence ao Espírito na mudança de trajetória no
retorno ao seu Eu transcendental. Como afirmou William Shakespeare: “a
transformação é uma porta que só abre de dentro para fora”.
Por Itair Ferreira
FONTE: http://www.correioespirita.org.br
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