As diferenças continuarão a existir... |
TEMOS ALGUMA COISA HAVER COM ISSO?
Escutam-se,
vez por outra, comentários acerca das diferenças sociais que se constatam entre
os seres humanos, asseverando que a condição social menos favorável de uns –
que constituem a ampla maioria – se deve ao fato de, em vidas pretéritas, tais
criaturas terem feito mal-uso do poder e da riqueza, logo, estariam expiando
suas faltas. Porém, diante dos números, chega-se à conclusão de que, no
passado, os ricos eram maioria…
Ao
lado dessa assertiva, também se defende a tese de que os que nascem em berço
esplêndido são espíritos especialmente comprometidos em praticar o bem,
espíritos que vieram com uma missão e a riqueza seria um instrumento dado por
Deus.
Em
resumo, os ricos estariam encarnados para missão e os pobres para expiação.
Essa
visão generalista e distorcida, própria das pessoas que se contentam em ficar
na superfície da doutrina espírita, mais de acordo com o “olho por olho e dente
por dente” da antiga lei mosaica, em nada se harmoniza com os ensinamentos de
Jesus e dos Espíritos que ajudaram a construir o espiritismo. A justiça
vingativa ainda é predominante nas mentes dos que encarnam neste planeta (e na de muitos Espíritos também…). A justiça distributiva e reparativa só recentemente, e
ainda de forma muito tímida, começa a ser compreendida e alguns esforços para
praticá-la começam a ser postos em prática.
Contrariando
esse pensamento comum, em o “Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo VII,
item 11, colhemos importante passagem, assinada por Lacordaire (Constatina, 1863), em
que expõe o seguinte pensamento:
O
orgulho é o terrível adversário da humildade. Se o Cristo prometia o reino dos
céus aos mais pobres, é porque os grandes da Terra imaginam que os títulos e as
riquezas são recompensas deferidas aos seus méritos e se consideram de essência
mais pura do que a do pobre. Julgam que os títulos e as riquezas lhes são
devidos, pelo que, quando Deus lhes retira, o acusam de injustiça. Oh! Irrisão
e cegueira! Pois, então, Deus vos distingue pelos corpos? O envoltório do pobre
não é o mesmo que o do rico? Terá o Criador feito duas espécies de homens? Tudo
o que Deus faz é grande e sábio; não lhe atribuais nunca às ideias que os
vossos cérebros orgulhosos engendram.
Allan
Kardec, ao abordar esse difícil tema em “O Livro dos Espíritos”, perguntou se é
lei da natureza a desigualdade das condições sociais? – Recebeu dos Espíritos
uma resposta simples e direta: “ Não; é
obra do homem e não de Deus. ”
As
diferenças sociais são inerentes à nossa condição evolutiva. Decorre das
diferenças de caracteres, de aptidões e, principalmente, do egoísmo comum aos
espíritos de pouca idade que por aqui encarnam. Numa sociedade verdadeiramente
fraterna, não existiriam tão poucos com tanto e tantos com tão pouco. Numa
sociedade em que cada um buscasse apenas o necessário para viver com dignidade
– o problema é justamente o subjetivismo do que seja dignidade – todos teriam
acesso ao mínimo para atender às necessidades básicas.
A
desigualdade social, portanto, é passageira. Já foi pior no passado, porém com
a evolução, com a assimilação de novos valores, enfim, com a evolução dos
espíritos que por aqui vivem, a humanidade terrena irá, pouco a pouco, tomando
consciência de que não se pode ser feliz convivendo com a dor e o sofrimento
evitáveis dos demais. Dizemos evitáveis, porque há certas dores inerentes à
própria evolução, que não constituem qualquer tipo de expiação.
Kardec,
então, pergunta aos Espíritos se essa desigualdade um dia desaparecerá, ao que
responderam:
“Eternas somente as leis de Deus o são”. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá
quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento.
Dia
virá em que os membros da grande família dos filhos de Deus deixarão de
considerar-se como de sangue mais ou menos puro. “ Só o Espírito é mais ou menos puro e isso não depende da posição social.
”
A
resposta é clara, depende de nós. Depende de nosso esforço em deixar os velhos
hábitos, próprios de um mundo velho, para cultivarmos novos hábitos, para então
viabilizarmos um novo mundo, com novos valores, mais perfeitos e condizentes
com a evolução dos membros dessa humanidade, auxiliados por espíritos mais evoluídos
que já começam a chegar para servirem de catalisadores desse processo.
Esse
mundo em que vivemos vai acabar? Com certeza! Tem que acabar? Lógico! É da Lei!
Façamos a nossa parte para que se cumpra!
Por Renato Mayrink
FONTE: http://espiritismoerazao.blogspot.com.br
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