Como anda a sua Transformação Moral?! |
Achei
a matéria interessante para reflexão, pois percebi nas entrelinhas um grande
esforço do autor em despertar os espíritas para o perigo da interpretação
literal dos textos que, neste caso, pode dar asas ao moralismo ou à
intransigência dos que acham que, para ser espírita, a pessoa não pode ter
defeitos; ou, então, o contrário, desde que tenha elevadas virtudes morais, já
é espírita. Nem uma coisa, nem outra, com certeza. A expressão do pensamento,
por mais elaborada, sempre esbarra na limitação da linguagem e, consequentemente,
no emaranhado das interpretações, que seguem ao sabor das conveniências.
Veja
como Allan Kardec escreveu “Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más. ”
Entendemos
que, ao dizer “verdadeiro espírita”, Kardec estava se referindo ao ideal do
Espiritismo, ou seja, à meta que o Espiritismo quer alcançar em relação aos
seus adeptos, e essa meta ele a coloca no esforço em a pessoa se melhorar e nas
transformações que ela quer atingir. E, ao comentar o tema “Pecado por
Pensamento e Adultério”, no Evangelho, estabelece um interessante critério para
se ter uma ideia do desenvolvimento moral das pessoas, ao afirmar: “A pessoa, que nem sequer concebe o mau
pensamento, já realizou o progresso; aquela que ainda tem esse pensamento, mas
o repele, está em vias de realizá-lo; e, por fim, aquele que tem esse
pensamento e nela se compraz, ainda está sob toda a força do mal. Numa, o
trabalho está feito; nas outras, está por fazer”.
Esse
é o caminho natural que nós, os espíritas, vamos percorrer, por força do ideal
que abraçamos. Assim, Kardec entendia que, desde que uma pessoa se inteirasse
da finalidade do Espiritismo, ela já teria motivos suficientes para iniciar
essa caminhada. Para tanto, por um compromisso consigo mesma, passaria a se
esforçar para se tornar melhor e contribuir, assim, para o melhoramento da
humanidade.
Mas,
entre a expectativa e a realidade há uma significativa distância. Nós,
espíritas, não somos melhores ou superiores aos não-espíritas, só pelo fato de
aceitarmos as ideias que o Espiritismo nos transmite. É preciso muito mais. No
entanto, o fato de não correspondermos inteiramente ao ideal que abraçamos não
nos tira o qualificativo de espíritas; apenas não nos dá a condição de bons
espíritas ou espíritas verdadeiros, como quer Kardec. Espírita, na verdade, é
toda pessoa que aceita os princípios básicos da doutrina, conforme as obras de
Allan Kardec, mas não é necessariamente só aquele que aplica esses princípios
em sua vida. Daí podermos dizer que, não havendo esforço em se fazer merecedor
desse qualificativo, não se trata de um bom espírita.
Em
artigo da Revista Espírita, escrito em agosto de 1865, chamado “O que ensina o
Espiritismo”, Kardec reconhece o quanto é difícil para nós alcançar uma só
virtude numa encarnação. Mas, ele não desiste dessa pretensão; pelo contrário,
acredita nela, e quer que os espíritas insistam nessa luta interior para o seu
progresso moral, como vemos no item 350 de O Livro dos Médiuns: “De que serve acreditar na existência dos
Espíritos, se essa crença não torna o homem melhor, mais benevolente e mais
indulgente para com seus semelhantes, mais humilde, mais paciente na
adversidade? (...) Todos os homens poderiam crer nas manifestações e a
humanidade permanecer estacionária; mas tais não são os desígnios de Deus”.
Logo,
ao usar a expressão “verdadeiro espírita”, Kardec se referia aos espíritas que
já assumiram consigo mesmos o compromisso de se melhorar, o que não aconteceria
quando - aceitando, admirando e até divulgando a doutrina - ainda não
empregamos nenhum esforço naquele sentido.
Por José Benevides
Cavalcante
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