Mahatma Gandhi (1869 - 1948) |
Gandhi, como todos sabem, foi um dos maiores personagens que já
passaram pela história da Terra, digo dos maiores, por que ele não apenas
falava palavras bonitas de Satyagraha (busca de verdade) e de Ahimsa (não
violência para com TODOS os seres), mas, sobretudo por que ele vivia o que
pregava e por isso dava o exemplo, não se conformando com o domínio dos hindus
pelos ingleses e nem dizendo que os hindus deveriam se resignar com tal
situação e ficarem orando para que os ingleses fossem embora, mas Gandhi foi à
luta pacifica, mobilizando todo um país (a Índia) a resistir ao domínio inglês
através da não violência. E conseguiu, com a não violência, libertar a Índia.
Gandhi foi e deveria continuar sendo um exemplo para todos os espíritas, pois
souber aliar a não violência a uma não resignação, resignação esta que parece
ter tomado conta dos espíritas.
Martin Luther King Jr. (1929 - 1968) |
Martin Luther King, era outro adepto da não violência e também
foi à luta pacifica, mobilizando milhares de negros a lutarem por seus direitos,
pacificamente, desrespeitados que eram pelos brancos racistas. Luther King
orava como pastor batista que era, mas não ficava só na oração e nem se
conformava com a situação, por que seria, como muitos pensariam em casos
parecidos, a vontade de Deus ou provações coletivas. Sabia que tinham que lutar
pelos seus direitos e conseguiu, a custo da própria vida, avanços
significativos no seu sonho de igualdade entre brancos e negros, através da não
violência. Luther King é, portanto, a exemplo de Gandhi, alguém que deveria ser
um referencial para todos os espíritas.
Chico Xavier (1910 - 2002) |
E Chico Xavier? Chico não viveu sob o jugo inglês na Índia e nem
pertencia à raça negra oprimida pelos brancos sulistas racistas dos EUA, mas
viveu no período da ditadura militar de 64 e mesmo que não pudesse ir contra a
ditadura, que era bem pior que os ingleses ou os brancos racistas do sul dos
EUA e o mataria com certeza, era de se esperar que não se mostrasse tão
conformista com a situação, conformismo esse que mais tarde se transformaria na síndrome de Poliana, que permeia o movimento espírita. Aliás, os livros que
tratam da personagem Poliana, a qual tentava enxergar sempre o bem, até onde
ele não existisse, demonstra bem o papel do “espírita caridoso” que não
usa nem a razão nem a criticidade. Ouvi certa vez o relato de uma espírita que
ao ser assaltada do lado de fora do Centro Espirita, esses espiritas Polianas
tentaram calar sua revolta dizendo que o "irmãozinho" veio saldar uma
dívida passada.
Ou seja, tudo está as mil maravilhas, mesmo que tudo vá mal.
Este é o espírito da Síndrome de Poliana, do conformismo extremo. E a prova
disso está na entrevista dada por Chico no Programa Pinga-Fogo, de 28 de julho
de 1971, quando perguntado se o fato dele ensinar que se as pessoas aguentassem
firmes os problemas da vida, pois as dificuldades, por pior que sejam, são
penas que devemos cumprir com calma e tudo faria parte de uma ordem superior,
que foge ao nosso controle, não seria uma postura conformista, Chico respondeu:
“O espiritismo nos pede paciência
para esperar os processos da evolução e as realizações dos homens dignos que
presidem os governos, cooperando de nossa parte, tanto quanto possível, para
que as leis desses mesmos governos sejam executadas”.
Ou seja, em plena ditadura militar, o médium mineiro pede apenas
que as leis em vigor sejam respeitadas. Só que estas mesmas leis permitiam ou
ordenavam censura, perseguições, exílios, torturas e mortes. Pelo pensamento de
Chico, as vítimas de tais leis certamente cometeram muitos erros em suas
encarnações passadas. Ainda bem que estavam sendo devidamente purgadas pelos
“homens dignos que presidem os governos”. Homens como Médici, Costa e Silva,
Castelo Branco e Geisel. Oras...
Madre Tereza de Calcutá (1910 - 1997) |
Dizem que Chico Xavier realmente dedicou sua vida a ajudar os
que precisam de auxílio e não se aproveitou do respeito que conquistou para
fazer fortuna e tornar-se poderoso. E neste ponto, para muitos, é exemplo de
caridade, e isso basta, para muitos o considerarem “espírita por excelência”,
mas lembremos que Chico nasceu pobre, ao contrário de Madre Tereza de Calcutá
que nascida em família rica, abriu mão de tudo para se dedicar aos pobres da
Índia. Muito mais caridosa, a meu ver do que Chico que, de nada teve que abrir
mão.
Falam também no bem que Chico prodigalizou ao confortar as mães
que iam buscar informes sobre os filhos desencarnados, mas esquecem-se que esse
“conforto” é passageiro, pois não nasceu do real entendimento e de mais a mais,
os filhos de outras mães não pararam de desencarnar; as cartas de Chico pararam
de serem escritas e não tem mais quem engane – digo, conforte – as mães. Só há,
o que já havia e que explica, sem misticismos quem somos e para onde vamos, ou
seja, a codificação.
E em relação a Gandhi, Luther King e Madre Teresa, Chico, a meu
ver, ficou bem para trás, pois se não pudesse se manifestar ativamente contra a
ditadura e se mostrasse conformado com ela, reconheço, que pelo menos não
pregasse o conformismo paralítico aos espíritas brasileiros. E quanto a
caridade, desde quando psicografar é caridade? Desde quando não doar órgãos é
caridade? Tudo bem que era uma opção do Chico não doar e passar horas
psicografando, mas não é caridade. Caridade para mim é o que Madre Teresa fazia.
E Gandhi e Luther King deram o exemplo de como se mantém a
dignidade, indo à luta pacifica sobre o que acreditam, não se conformando
jamais com a situação em que se viam, como povos hindus ou negros oprimidos
pelos dominadores ingleses ou brancos. Chico deu o (mau) exemplo, no cerne
deste artigo, de como o conformismo pode ser bastante útil aos dominadores que
mandam, oprimem e exploram, exatamente por que sabem que não encontrarão resistência.
Nesta análise eu utilizei os bons exemplos de um hindu, de um protestante
batista e de uma católica e um, a meu ver, mau exemplo de alguém tido como
espirita (mas que não é).
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