*Continuação*
Entretanto, a acentuação
da propaganda das ideias roustainguistas naquela época não fora somente obra
perseguida por Bezerra de Menezes.
Dois outros espíritas igualmente importantes intermediaram sua difusão no Brasil: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio e Antônio Luiz Sayão. Somando-se a Bezerra de Menezes, foram esses três os primeiros grandes construtores do espiritismo religioso. Certamente existiram muitos outros – imprescindível ressaltar – que, participando da economia da produção dos bens de salvação, acabaram por fazer algumas contribuições e mesmo algumas modificações; enquanto outros ainda foram radicalmente contrários à concepção espírita defendida pela “trindade” do espiritismo evangelicista, mesmo que também fossem esses outros, tidos como espíritas religiosos. Seja como for, cabe salientar que, para além das diferentes e não raro divergentes posições tomadas quanto ao espiritismo religião, o fato é que esses agentes desenvolveram, com a ajuda posterior que tiveram de seus seguidores, uma conformação peculiar de um modo de ser espírita no Brasil. Nos dias de hoje, não faltam seguidores dessas três lideranças espíritas para reconhecer o mérito e a validade do seu trabalho. “Às colunas do espiritismo: Antônio Luiz Sayão, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio”: esta aí é a dedicatória feita por um escritor espírita cuja obra, Ponte evangélica (de Bordéus a Pedro Leopoldo), narra a passagem das ideias do advogado bordelês da França para o Brasil, ideias que foram compartilhadas, entre outros importantes espíritas, por Chico Xavier, o maior nome do espiritismo brasileiro no século XX, nascido justamente em Pedro Leopoldo, cidade que o subtítulo do livro homenageia. Foi através da propalada faculdade mediúnica de Chico Xavier que as múltiplas angulações de ‘Os quatro evangelhos’ foram definitivamente legitimadas e mais ainda propagadas.
Dois outros espíritas igualmente importantes intermediaram sua difusão no Brasil: Francisco Leite de Bittencourt Sampaio e Antônio Luiz Sayão. Somando-se a Bezerra de Menezes, foram esses três os primeiros grandes construtores do espiritismo religioso. Certamente existiram muitos outros – imprescindível ressaltar – que, participando da economia da produção dos bens de salvação, acabaram por fazer algumas contribuições e mesmo algumas modificações; enquanto outros ainda foram radicalmente contrários à concepção espírita defendida pela “trindade” do espiritismo evangelicista, mesmo que também fossem esses outros, tidos como espíritas religiosos. Seja como for, cabe salientar que, para além das diferentes e não raro divergentes posições tomadas quanto ao espiritismo religião, o fato é que esses agentes desenvolveram, com a ajuda posterior que tiveram de seus seguidores, uma conformação peculiar de um modo de ser espírita no Brasil. Nos dias de hoje, não faltam seguidores dessas três lideranças espíritas para reconhecer o mérito e a validade do seu trabalho. “Às colunas do espiritismo: Antônio Luiz Sayão, Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio”: esta aí é a dedicatória feita por um escritor espírita cuja obra, Ponte evangélica (de Bordéus a Pedro Leopoldo), narra a passagem das ideias do advogado bordelês da França para o Brasil, ideias que foram compartilhadas, entre outros importantes espíritas, por Chico Xavier, o maior nome do espiritismo brasileiro no século XX, nascido justamente em Pedro Leopoldo, cidade que o subtítulo do livro homenageia. Foi através da propalada faculdade mediúnica de Chico Xavier que as múltiplas angulações de ‘Os quatro evangelhos’ foram definitivamente legitimadas e mais ainda propagadas.
Se desde Bezerra de Menezes – juntamente com seus seguidores
Bittencourt, Sayão, entre outros – o programa Kardec-Roustaing já era uma
realidade, foi somente com a publicação do livro Brasil: coração do mundo,
pátria do evangelho, obra psicografado por Chico Xavier em 1938, que ele se
tornou “espiritualmente” legítimo. Uma de suas primeiras obras “recebidas
mediunicamente”, esse livro relata a “preparação espiritual” do Brasil como
terra prometida do cristianismo na América, missão que seria totalmente
cumprida com a chegada do espiritismo em seu território. O autor, supostamente
o espírito do escritor Humberto de Campos (1886-1934), narra os fatos
históricos desde as grandes navegações e a chegada dos portugueses em terras
brasileiras, até os acontecimentos no Brasil do século XX, explicando (ou melhor,
interpretando) os fatos sempre à luz do espiritismo. Conta igualmente a
trajetória dos núcleos espíritas anteriores à FEB (mais precisamente dos
núcleos religiosos), bem como a sua fundação e a história dos
principais agentes dessa instituição; isso tudo como se a existência tanto da
FEB quanto desses agentes tivesse sido providencialmente programada desde os
tempos mais remotos. A história do Brasil aparece como uma espécie de epopeia espiritual comandada pelos desígnios dos espíritos. Era dessa forma então que o
tradicional programa da FEB, a autodenominada “Casa-Máter” do espiritismo no
Brasil, passava a ter uma nova natureza: ele era, agora, consagrado.
“Foi assim que Allan Kardec, a 3 de outubro de
1804, via a lua da atmosfera terrestre, na cidade de Lião. Segundo os planos de
trabalho do mundo invisível, o grande missionário, no seu maravilhoso esforço
de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares de sua obra,
designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de
João-Baptista Roustaing, que organizaria o trabalho da fé [...].” (XAVIER,
1982, p. 173).
E assim, não só o programa da FEB tornava-se consagrado, mas
também toda a história de vida dos principais agentes desse órgão.
“Os mensageiros de Ismael, triunfando da
discórdia que destruía o grande núcleo nascente [o Grupo Confúcio], fundavam sobre ele, em 1876, a ‘Sociedade
de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade’, sob a direção esclarecida de
Francisco Leite Bittencourt Sampaio, grande discípulo do emissário de Jesus,
que, juntamente com Bezerra, tivera a sua tarefa previamente determinada no
Alto. A ele se reuniu Antônio Luiz Sayão, em 1878, para as grandes vitórias do
Evangelho nas terras do Cruzeiro.” (IDEM,
p. 185).
Esse artigo foi retirado do trabalho de Dissertação apresentada
ao Programa de Pós-Graduação do Departamento de Sociologia da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a
obtenção do título de Mestre em Sociologia. Realizadora, Célia
da Graça Arribas, com o título Afinal, espiritismo é religião? A doutrina espírita na formação da diversidade religiosa
brasileira. Hoje, este trabalho se tornou um livro, já a disposição dos todos
os interessados.
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