De repente, uma das médiuns na reunião de desobsessão começou a pedir socorro, exclamando:
- Eu sou espírita! Bezerra de Menezes, venha me salvar! Eu sou espírita! Tirem-me daqui!
Acerquei-me dela e falei:
- Já escutamos seus apelos e vamos tirá-la daí.
Ela (pois que era uma mulher) estava presa no cemitério e não conseguia sair de lá.
Vamos sair por cima; voando – Disse-lhe. E suspendi um pouco a cabeça da médium, inclinando-a para trás, dando a impressão à comunicante que ela havia sido retirada do local onde estava por uma força que a sugava para cima.
- Saímos! Ponha os pés no chão para verificar que estamos seguros em terra!
A mulher fez como eu dissera e exclamou, aliviada:
- Até que enfim alguém ouviu os meus apelos.
- Como aconteceu isso? – Indaguei.
- Não sei! Eu pensei que por ser espírita teria direito a algo mais que as outras pessoas. Mas isso não aconteceu. O que André Luiz escreveu, que a gente vai para uma colônia onde tem escolas, parques, avenidas, tudo fantasia... – Respondeu.
- Mas André Luiz também escreveu que existem regiões de purgação, e que nem todos podem ser agraciados com a cidadania de “Nosso Lar” ou com a companhia imediata dos amigos e familiares. Tudo depende do merecimento de cada um.
- Ora, mas eu fui espírita! Assisti a inúmeras palestras, escutei muitas explanações evangélicas...
- Mas você as colocou em prática? Minha irmã, entrar no Espiritismo é fácil. Difícil é o Espiritismo entrar nas pessoas. Deus não está muito interessado em rótulos doutrinários, mas naquilo de bom que as pessoas fazem. Tomar conhecimento de alguns ensinamentos espíritas só aumenta a nossa responsabilidade frente à vida. Leu a obra de Kardec?
- Sim.
- Não consta em seus escritos que o espírita deve caracterizar-se pelo esforço que faz para renovar-se a cada dia?
- Lembro bem disso. Estou envergonhada. Na verdade nunca fui às visitas feitas pelo centro, aos hansenianos. Nunca dei um único passe; pelo contrário, o recebia semanalmente, mesmo sem necessidade. Estudei pouco e reconheço que me acomodei frente às obrigações de cada dia. Quando despertei naquele cemitério, não tive forças para organizar o pensamento e orar. Apenas caí no desespero e gritei como uma criança assustada. Esqueci principalmente de um dos lemas do Espiritismo; o básico: “Fora da caridade não há salvação”.
- Mas agora você tem os frutos de uma lição prática; creio que não a esquecerá.
- É verdade. Agradeço aos bons espíritos que me auxiliaram e espero poder recomeçar meus estudos espíritas, desta vez com seriedade.
- Desejo-lhe bom ânimo.
- Obrigada. Até um dia.
O diálogo foi uma lição para todo o grupo. Ficou bastante claro que não basta o rótulo, o cargo, a posse...
Deus espalha o bem a cada dia. Muito natural, portanto, que espere de seus filhos algo semelhante.
... É! Não fazer o bem já é um mal, comentou um dos médiuns, preocupado com o que ouvira...
Texto retirado desse Livro de Luiz Gonzaga Pinheiro.
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