Correr e não sair de onde está! |
Os diversos movimentos sociais de nosso tempo são marcados por momentos de análise e reflexão.
Nestas oportunidades, é possível refletir conscienciosamente acerca da comparação objetivos-resultados, e, neste aspecto, corrigir possíveis distorções e erros e reavaliar condutas e compromissos, é premissa fundamental para alcançar o êxito, em momentos supervenientes.
Ficamos a pensar porque o movimento espírita não toma tais medidas. Tomando por base a realidade vivenciada nos Centros Espíritas, a regra geral acerca da possibilidade da alteração de rota é visualizada apenas e tão-somente na época dos pleitos eleitorais internos. Havendo ou não disputas - entre pessoas e/ou grupos - a eleição de uma instituição compreende a participação dos sócios e a possibilidade de, sendo escolhidas outras pessoas para gerir o grupo, seja possível perceber alterações nas rotinas administrativas e nos objetivos institucionais.
Ampliando um pouco mais este espectro, têm-se as entidades federativas, confederativas ou associativas gerais. Estas - embora também exista, como nas primeiras, a possibilidade de mudanças, com eleições diretas ou colégios eleitorais - têm, em nossa visão, um papel muito mais importante no aspecto de reformulação de paradigmas, ou, em outros termos, na possibilidade de alcance de melhores resultados na ação espírita.
Afinal de contas, observam - de fora - a realidade de grupos, segmentos e instituições espíritas, tendo a missão de coordenar eventos que possam resultar na orientação, apoio, formação e reciclagem daqueles que ocupam funções específicas nas sociedades espíritas. Mas será somente isso?
Há muito tempo tem-se eventos patrocinados por entes federativos ou congêneres, que reúnem os "trabalhadores" das instituições de uma ou mais regiões, para cursos, seminários ou encontros "de discussão", onde, por meio de debates ou apresentação de técnicas - com, às vezes, participação de convidados ilustres, de outras partes do Brasil - explicitando o "como fazer", apresentando fórmulas ou mecanismos prontos para serem reproduzidos em qualquer parte, com qualquer público.
Assim, formam-se expositores, educadores (?), divulgadores, médiuns, assistentes sociais (?) espíritas....
Ou, pelo menos, "pensa-se estar formando". Formar alguém significa algo mais do que colocar (algumas) ferramentas ou simular situações que possam vir a ocorrer no âmbito da atividade espírita. A capacitação deve estar voltada ao melhor preparo do indivíduo para raciocinar ante questões novas, construir o seu presente - não apenas vivê-lo - e, principalmente, tornar independente (mas não autossuficiente) o cooperador, de modo que ele possa ser o responsável pela melhoria de sua vida, da do próximo, e da realidade da instituição à qual se afeiçoou e a quem dedica suas horas livres.
Um outro aspecto relevante é a avaliação das necessidades do público. Aliás, primeiramente, quem é o público que frequenta nossas instituições?
Com base na percepção diária das atividades espíritas públicas, temos um contingente formado por trabalhadores, simpatizantes, religiosos e curiosos. Isto porque o motivo que os traz à casa espírita é variável. Quanto aos primeiros, entende-se que tais estudam a doutrina, isto é, leem cuidadosamente os textos e livros afetos à área de atuação dentro da instituição e, de uma forma geral, reciclam sempre seus conhecimentos, aprendendo através da participação em reuniões de estudo grupais. Os segundos ainda não se consideram totalmente espíritas, mas, de uma forma geral, sentem-se bem ao participar das atividades, gostam dos temas das palestras e objetivam recompor-se energeticamente através dos passes. Os terceiros entendem ser o centro espírita similar a um templo de oração de qualquer agremiação religiosa e participam das reuniões com a mesma motivação e percepção de que se estivessem em uma igreja. Rezam junto, procuram adotar uma postura apenas receptiva e habituam-se a "ir ao centro" pelo menos uma vez por semana. Os últimos, finalmente, desejam saber algo sobre o "tal" espiritismo, ou então "sentem" algo diferente ou presenciam, principalmente no núcleo familiar a fenomenologia mediúnica e, quase sempre, após satisfeitas suas dúvidas, desaparecem do centro.
Pergunta-se, então: atende-se satisfatoriamente toda essa gama de frequentadores? Ou, mais especificamente, para que público estamos realmente comprometidos a atender?
Partindo da premissa de que a condição de trabalhador espírita realmente enquadra aquelas pessoas que se esforçam por aprender a doutrina e alcançar os melhores resultados possíveis dentro da atividade que abraçam, em quaisquer das áreas específicas existentes numa instituição espírita, nossa maior preocupação deve ser dirigida à satisfação de suas necessidades. Então, é necessário sempre reciclar atividades, fazer rodízios entre os núcleos de trabalho, motivar os participantes, democratizar as decisões, entre outros.
Em seguida, preocupar-nos-emos com os simpatizantes, na exata proporção de seus interesses, fomentando, sempre que possível, a superação da posição passiva de mero expectador, facilitando o engajamento em atividades já existentes, convidando-os para o estudo e a prática dos ensinamentos espíritas.
Quanto aos terceiros, esclarecer que a casa espírita não é um templo religioso na exata acepção da palavra. Porque o espiritismo não é em si uma religião, conforme o significado que se pode colher de sua etimologia: religião é "(...) instituição social que se caracteriza por uma comunidade de pessoas unidas pelo cumprimento de rituais, pela crença e pela fé em Deus". Ao menos no que concerne à primeira parte, o espiritismo não é religião. Não possui dogmas, não tem ritos ou sacramentos. Aliás, remontando à própria definição de Kardec, sobre a Doutrina Espírita, temos: "Doutrina filosófica de bases científicas e consequências morais".
O que falta aos espíritas é, sinceramente, mais ação, mais resultados e menos contemplação. Caso contrário, corremos o sério risco - e já vivemos tal fase - de nos transformarmos em uma bela proposta temática de vida, no campo da teoria sem nenhuma (ou pouca) aplicação prática.
Paralelamente, deve a instituição espírita - ou, pelo menos, seus participantes ativos - preocupar-se com o retorno social, em termos de mudança da realidade do mundo, em termos de alcance da felicidade. A propósito, o que tem feito a sua instituição no sentido de proporcionar aos outros o conhecimento das verdades espirituais?
Não se trata, evidentemente, de fazermos proselitismo religioso, pregarmos em locais públicos, ou saímos de casa em casa oferecendo periódicos ou mensagens. Falamos, em verdade, do necessário engajamento do segmento espírita na discussão de alternativas para minorar os problemas e mazelas sociais e, mais adiante, na participação em projetos coletivos de melhoria da vida coletiva.
Muitas das pessoas que procuram as casas espíritas de que participamos ou ouvem nossas palestras, queixam-se da pouca (ou nenhuma) possibilidade de fazer algo em benefício daqueles que não são espíritas, seja na questão de levar adiante o conhecimento das verdades espirituais, seja para contribuir na solução dos problemas de sua comunidade. Isto acontece porque, via de regra, as instituições vivem em função de si mesmas, fazendo a "divulgação" do espiritismo apenas para aqueles que já estão nas casas espíritas.
A questão de fundo é essencialmente a do plano de ação. Que objetivos sua instituição contempla? Para que foco se acha voltada? Será que se contenta apenas em atender àqueles que já conseguiram procurar apoio e esclarecimento num centro? O que podemos fazer pelos demais, apenas pelo desejo de servir, de fazer o bem?
Pense, reflita... Comece a semear em sua instituição, mesmo que, a princípio, suas ideias sejam combatidas ou lhe apresentem "n" razões impeditivas. Tenho certeza que você encontrará outras pessoas dispostas a começar algo novo. E isto importa, racionalmente, em propor novos rumos para o Espiritismo. Afinal, quando um certo Kardec começou a falar de espiritismo, a expor suas ideias e publicar seus livros, muitos também o desencorajaram ou ridicularizaram. Ele não parou, não negou a fonte de água viva.... Por que não nós?
Por Marcelo Henrique Pereira
FONTE: http://www.espiritualidades.com.br
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