Atualizar é Preciso?

Razões e Bases para a Mudança

Uma pergunta se apresenta inevitável, neste momento.

Será que existe realmente a necessidade de atualizar o pensamento espírita?

A resposta é sim.

Isso fica muito claro quando afirmou Allan Kardec:
No estado de imperfeição de nossos conhecimentos, o que hoje nos parece falso pode amanhã ser reconhecido como verdade, devido à descoberta de novas leis. Isto acontece na ordem moral como na ordem física. É contra essa eventualidade que a Doutrina nunca pode estar desprevenida. O princípio progressivo que inscreveu em seu código será a salvaguarda de sua perpetuidade. E sua unidade será mantida precisamente porque ela não repousa sobre o princípio da imobilidade (Constituição do Espiritismo – II Dos Cismas, Obras Póstumas, página 260, Edicel).

Estrutura Progressiva do Espiritismo

Allan Kardec previu que se a Doutrina se mantivesse estagnada seria decretar sua falência: a imobilidade levará ao suicídio da Doutrina, afirmou.

Portanto, se está inscrito no código do Espiritismo, o princípio da progressividade, não há como contestar na sua legitimidade.

O movimento de atualização é permanente, pois a vida e o progresso são dinâmicos. Todavia, qualquer proposta de atualização ou revisão doutrinária, terá que obedecer a certos critérios, sob pena de diluirmos a estrutura do pensamento espírita.

Temos que Ter em mente, sempre, que esse movimento deve procurar: a consolidação dos princípios básicos; a revisão de conceitos e interpretações específicas, próprias do tempo de Kardec e que perderam alguma significação, no decorrer do tempo; a análise da mentalidade citada pelo movimento espírita, influência culturais, idiossincrasias de dirigentes, médiuns e Espíritos que, sob muitos aspectos deformaram a formulação conceitual da doutrina.

Afinal o que precisa mudar?

Kardec delineou o quadro básico de nosso entendimento doutrinário:
O programa da Doutrina só será invariável quanto aos princípios que passaram a verdades comprovadas; quanto aos outros, ela só os admitirá, como sempre tem feito, a título de hipóteses até que sejam confirmados. Se lhe demonstrarem que está errada em algum ponto, ela se modificará nesse ponto”.

Analisando os três pontos passíveis de reavaliação, que aludimos acima, podendo tecer os seguintes comentários:

A)  Consolidação dos Princípios Básicos.
Nesse ponto, nada a acrescentar, porque pontos capitais da Doutrina: existência de Deus; existência, imortalidade, comunicabilidade dos Espíritos; evolução do Espírito pela reencarnação constitui a base, o fundamento de todo o conjunto de ideias doutrinárias e tem sido sustentado através de mais de um século.

É evidente que alguns pensamentos acerca desses princípios precisam ser atualizados, para dar-lhe consistência mais científica, se possível ou pelo menos mais racionais. Certamente muitas coisas são imutáveis, mas mesmo assim não estáticas. A imortalidade da alma, por exemplo, é uma idéia imutável, mas dinâmica, na medida em que pode ser enriquecida, expandida, revista em sua operacionalidade. A idéia de Deus, central para a Doutrina, é das que será fruto de constante mutação, pelo fato de não sabermos nada sobre a natureza divina e que a imagem que dela temos decorre, em grande parte, da estrutura doutrinária que herdamos dos judeus e seu velho testamento.

Trata-se, todavia, de consolidação pela expansão do entendimento e nenhum questionamento sobre sua validade.

B) Conceitos e Interpretações Específicas, próprias do tempo de Kardec e que perderam alguma significação, no decorrer do tempo.
Essa parte tem sido constantemente questionada e em alguns casos já foi feita uma alteração semântica. Os tempos mudaram a linguagem, incluíram novos conhecimentos. No tempo de Kardec não havia a noção da vida psicológica que Freud introduziu nem as noções da física relativista, da noção ondulatória da matéria, nem os avanços da pesquisa no campo da medicina, na definição dos processos genésicos.

O que se torna imprescindível é evitar cristalizar ou sacramentar certas ideias e análises pelo simples fato de constarem das Obras Básicas ou dos Pensamentos de Kardec na Revista Espírita e outros livros. Não trata, absolutamente, de mudar o estilo, substituir palavras adulterando os textos doutrinários. Mas de situar o conceito na atualidade, cotejando-os com avanços das ciências, dos pensamentos filosófico, atualizando a linguagem e o entendimento. Tudo isso será extremamente facilitado na medida em que conseguirmos mudar a mentalidade místico-religiosa que envolveu o movimento espírita e que leva a interpretação essencialmente colidente com o espírito doutrinário, ainda que agrade a multidões e fale emotivamente.

C) Análise de Mentalidade criada pelo movimento espírita, influência culturais, idiossincrasias de dirigentes, médiuns e Espíritos que, sob muitos aspectos deformaram a formulação conceitual da doutrina.

De um modo geral nenhum progresso será possível, se não houver uma substancial Mudança na estrutura do pensamento efetivo que norteia a maioria dos espíritas, inclusive, naturalmente, seus órgãos diretores. A realidade doutrinária foi estabelecida pela absorção dos fatores culturais, que inclui todo o universo de crenças, superstições e formas pessoais, dando-lhe a feição atual.

É aí que vemos, com veemência, a necessidade de haver profundas mudanças. Pois é o modo de pensar a Doutrina, que leva a interpretações e a formas de operacioná-las e de aplicá-las na análise dos fatos. Em outras palavras, o que se torna urgente é mudar a mentalidade dominante no entendimento dos princípios espíritas.

A conclusão óbvia é que Allan Kardec não só desejava como preparou o Espiritismo para atualizar-se. Então porque a grande maioria dos dirigentes recusa-se a pensar em mudar, em atualizar? Uma coisa parece inevitável. Ou voltamos aos parâmetros básicos de Kardec, para que tenhamos bases para manter o Espiritismo atualizado, progressivo ou ele perecerá por engessamento, imobilidade e pela doença incurável do misticismo.

Trechos compilados do texto original de Jaci Régis no,
III SIMPÓSIO BRASILEIRO DO PENSAMENTO ESPÍRITA.
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