Nem tudo é Espiritismo! |
No item I – Espiritismo e Espiritualismo, da
Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, constante de O Livro dos
Espíritos Kardec esclarece:
“Para as coisas novas necessitamos de palavras
novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão
inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos. A palavra espiritual,
espiritualista, espiritualismo tem uma significação bem definida; dar-lhes
outra, para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já
tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é o oposto do
materialismo; quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da
matéria é espiritualista; mas não se segue daí que creia na existência dos
Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.
Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo empregaremos, para designar esta última crença, as palavras espírita e Espiritismo, nas quais a forma lembra a origem e o sentido radical e que por isso mesmo tem a vantagem de ser perfeitamente inteligíveis, deixando para espiritualismo a sua significação própria. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se o quiserem, os espiritistas.
Como especialidade O Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade liga-se ao Espiritualismo, do qual representa uma das fases. Essa a razão por que traz sobre o título as palavras: Filosofia Espiritualista.”
Espiritualismo
Doutrina filosófica que admite a existência de Deus
e da alma. Contrapõe-se ao Materialismo, que só admite a matéria.
Segundo o Materialismo no ser humano só haveria o
corpo físico. Até as funções superiores como a memória, o raciocínio, as
emoções, os sentimentos poderiam ser reduzidos a simples reações
físico-químicas do sistema nervoso, do sangue, das glândulas internas. O
Universo seria formado por acaso e seria explicado dentro das leis das ciências
exatas (Matemática, Física, Química, Astronomia etc.). Esta é a tese do
Materialismo Filosófico, que não deve ser confundido com o Materialismo
Pragmático e Hedonista adotado por aquele que, embora se diga até mesmo
religioso, só quer mesmo é gozar os prazeres da vida terrena, nem que seja em
cima da miséria alheia.
Todos os religiosos, como aceitam a Alma e Deus,
são, por isto mesmo, espiritualistas.
Assim, a pala espiritualista tem significado muito vasto, abrangendo o católico, o protestante, o umbandista, o candomblecista, o israelita ou judeu, o islâmico ou maometano etc.
Espiritismo
Doutrina filosófica também espiritualista, mas que se diferencia das outras correntes filosóficas por Ter características bem definidas, a saber:
A – Concepção tríplice do homem: Espírito –
Períspirito – Corpo Físico;
B – Sobrevivência do Espírito como individualidade;
C – Continuidade da responsabilidade individual;
D – Progressividade do Espírito dentro do processo
evolutivo em todos os níveis da natureza;
E – Comunicação mediúnica disciplinada voltada para
o esclarecimento e a consolação de encarnados e desencarnados;
F – Volta do Espírito à matéria (reencarnação) tantas
vezes quantas necessárias para alcançar a perfeição relativa a que se destina,
não admitindo, no entanto, a metempsicose, ou seja, a volta do Espírito no corpo
de animal para pagar dívidas, como aceita o Hinduísmo. Conforme o Espiritismo,
o Espírito não retrograda;
G – Ausência total de hierarquia sacerdotal;
H – Abnegação na prática do bem, ou seja, não se
dobra nada por esta ou aquela atividade espírita;
I – Terminologia própria, como por exemplo,
períspirito, Lei de Causa e Efeito, médium, Centro Espírita, e nunca corpo
astral, carma, Exu, Orixá, “cavalo”, “aparelho”, “terreiro”, “encosto”,
vocábulos utilizados por outras religiões e que não têm cabimento no meio
espírita;
J – Total ausência de culto material (imagens,
altares, roupas especiais, oferendas, velas etc.);
I – Na prática espírita não há batismo nem culto ou
cerimônia para oficializar casamento;
M – Respeito a todas as demais religiões, embora não
incorpore a seu corpo doutrinário os princípios e rituais delas;
N – A moral espírita é a moral cristã: “Fazer ao próximo aquilo que dele se deseje”.
Espiritismo, Sincretismo e Cultos Afro-Brasileiros
Na obra Africanismo e Espiritismo –
Cap. I, Deolindo Amorim afirma:
“Tem-se procurado, aliás sem razão plausível,
confundir o Espiritismo com velhas práticas afro-católicas, enraizadas no
Brasil desde o período colonial. Argumenta-se, em defesa de tal suposição, que
nas práticas africanas se verificam manifestações de espíritos, o que, no
entender de muitas pessoas, é suficiente para dar cunho espírita a essas
práticas. O raciocínio é mais ou menos este: onde há manifestações de
espíritos, há Espiritismo; logo, as práticas fetichistas são também práticas espíritas,
porque nelas se faz evocações de espíritos”.
“Eis aí uma preliminar discutível. Em primeiro
lugar, o que caracteriza o ato espírita não é exclusivamente o fenômeno; em
segundo lugar, o Espiritismo (corpo de doutrina organizado por Allan
Kardec) surgiu no mundo em 1857, e quando suas obras chegaram ao Brasil,
já existia o Africanismo generalizado, principalmente na Bahia.”
“Historicamente, como se vê, não é possível
estabelecer qualquer termo de comparação, porquanto o Africanismo data da época
muito recuada, ao passo que a Doutrina Espírita é do século passado…” (século XIX)
“O Africanismo tem ritual organizado, de acordo com
suas tradições seculares, fundadas na crença em divindades peculiares a seu
culto, enquanto o Espiritismo não adota ritual de espécie alguma, não tem forma
de culto, nem adora divindades. É uma doutrina de base científica, propensa ao
método experimental, de cogitações filosóficas muito elevadas, porque trata do
destino da alma humana, preparando o homem para a prática do Bem, única estrada
que conduz a Deus.”
“Muito deve o Brasil ao braço africano, cujo suor,
com sacrifício e dedicação, regou os alicerces da prosperidade econômica do
país. O africano trouxe para o Brasil os elementos de sua cultura, já muito
velha àquele tempo. Deu-se logo a mesclagem cultural, mais esclarecida,
atualmente, pelas investigações da Sociologia. Com o tempo, porém, o culto
africano começou a desfigurar-se, perdendo as suas linhas originais, em
consequência d gradativa e inevitável influência do Catolicismo. Fundiram-se,
pois, três tipos diferentes na formação do Brasil: europeu, africano e
aborígene. Entre os filhos da terra, os aborígenes, não havia uniformidade de
usos e costumes, o que não deixa de refletir a forma de culto…”
“O Africanismo perdeu há longo tempo, no Brasil,
seus traços primitivos. Formou-se no país uma cultura de fusão, disto
resultando o sincretismo religioso: um pouco de Catolicismo, um pouco de
Africanismo e um pouco de Espiritismo deturpado pelo misticismo popular.”
No Cap. II, o autor, informa:
“Não se discute que o objetivo do culto
afro-católico, com todos os seus elementos religiosos e culturais, seja ou não
o Bem; mas o que se acentua é que Espiritismo não se identifica nem se confunde
com o Africanismo. A prática deste último obedece a prescrições ritualísticas,
enquanto a prática espírita dispensa e rejeita qualquer fórmula sacramental,
qualquer objeto de culto etc.”
O Espiritismo encontrou, no Brasil, a
preponderância do Africanismo e do Catolicismo, com um fator absolutamente
favorável: o baixo nível intelectual das massas, educadas na superstição e sob
o influxo da Religião Católica, que lhe imprimiu o apego aos ídolos, aos
símbolos etc. Difícil tem sido ao Espiritismo reagir contra a propensão de
grande parte de seus simpatizantes para o culto fetichista. Daí muita gente,
que desconhece o assunto, que não sabe o que é Espiritismo, dizer que
Espiritismo e Africanismo são sinônimos…. Eis um erro que precisa ser desfeito.
Umbandismo, ou qualquer outra forma de Africanismo não constitui modalidade do
Espiritismo.
No Livro O Espiritismo e as Doutrinas
Espiritualistas no Cap. III Deolindo Amorim acrescentam:
“Apesar do aspecto comum – o caráter espiritualista
– a Umbanda não se configura no corpo da Doutrina Espírita nem o Espiritismo se
conforma à organização religiosa da Umbanda. À parte o fenômeno, que é ponto
pacífico, devemos considerar os dois movimentos em seus campos adequados, sem
confusão nem rivalidade: Umbanda deve ser compreendida como Umbanda e
Espiritismo deve ser compreendido como Espiritismo”.
A propósito, cabe esclarecer que não existe
espiritismo de mesa, alto espiritismo, baixo espiritismo, espiritismo de mesa
branca, e outras expressões similares. Existe somente Espiritismo.
Aliás, ficam também esclarecido que a expressão
Kardecismo não corresponde à realidade, pois a doutrina não é de Kardec. Allan
Kardec organizou, codificou a Doutrina Espírita ou Espiritismo, que lhe foi
passada pelos Espíritos encarregados de concretizar entre nós o Consolador
prometido por Jesus.
Transcrevemos abaixo pergunta de um céptico e a
resposta de Allan Kardec, constante da obra O que é o Espiritismo,
que bem esclarece o assunto:
“V. – O senhor tinha razão de dizer que das mesas
giratórias e falantes saiu uma doutrina filosófica, e longe estava eu de
suspeitar as consequências que surgiram de um fato encarado como simples objeto
de curiosidade. Agora vejo quanto é vasto o campo aberto pelo vosso sistema.
A.K. – Nisso vos contesto, caro senhor; dais-me
subida honra atribuindo-me esse sistema quando ele não me pertence. Ele foi
totalmente deduzido do ensino dos Espíritos. Eu vi, observei, coordenei e
procuro fazer compreender aos outros aquilo que compreendo; esta é a parte que
me cabe.
Há entre o Espiritismo e outros sistemas
filosóficos esta diferença capital; que estes são toda obra de homens, mais ou
menos esclarecidos, ao passo que, naquele que me atribuís, eu não tenho o
mérito da invenção de um só princípio.
Diz-se: a filosofia de Platão, de Descartes, de
Leibniz; nunca se poderia dizer: a doutrina de Allan Kardec; e isto,
felizmente, pois que valor pode ter um nome em assunto de tamanha gravidade?
O Espiritismo tem auxiliares de maior
preponderância, ao lado dos quais somos simples átomos.”
Por Serniom
FONTE:
https://espirito.org.br/artigos/espiritismo-e-espiritualismo/
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