Existem crianças más? Sim, existem!

Espíritos maus reencarnam!

Sistematicamente quando estou perante crianças e jovens em ambiente condicionado como uma audição num processo disciplinar, parece que tenho perante mim alguém completamente diferente da pessoa que realizou os comportamentos desviantes que constam nas participações disciplinares.




Apesar de não ser especialista, é meu costume analisar a linguagem corporal dos alunos, pois acredito que ela é mais sincera que as palavras que lhes saem pela boca.

Por exemplo: quando se senta à minha frente um aluno que se debruça sobre a mesa com a cabeça inclinada para a frente e me olha fixamente, estou perante um aluno que procura o desafio e que vai tentar dominar a conversa, sacando da sua “chique-expertise” para ver se me faz fumegar…; Ou quanto assisto a um aluno praticamente deitado na sua cadeira, encolhendo os ombros quando lhe são colocadas certas questões sobre o seu futuro e afins, apresentando uma fachada de indiferença para o que se está a passar; ou mesmo quando vejo um aluno cabisbaixo, apertando os dedos, abanando os pés e as pernas sem parar, incapaz de estabelecer contato visual, revelando um evidente nervosismo e vergonha sobre o que se está a acontecer.

O discurso é obviamente adaptado ao “diálogo” corporal, de modo a que o processo em si seja um ponto de partida e não apenas mais uma conversa do chato do professor. Eles não sabem, mas toda a conversa está planeado, os objetivos estão traçados com o intuito de alavancar a tão desejada recuperação/ integração escolar.

Reconhecimento genuíno da infração (se o aluno não reconhecer que errou vai manter a mesma postura);
Encarar o eventual castigo como algo merecido para não gerar futura agressividade ou revolta (ganhar consciência que cada ação tem uma consequência, seja ela boa ou má);

Sentir que a escola não desistiu dele e que aquele momento faz parte da sua mudança para algo melhor e que trará sucesso futuro.

Nem sempre o futuro me dá razão, mas já são uns quantos que melhoraram comportamentos atingindo os mínimos necessários para aprender qualquer coisa, mesmo que essa qualquer coisa se restrinja ao tão simples e tão importante “saber estar” …

Nestas inúmeras conversas, são frequentes os momentos em que os alunos revelam incapacidade em gerir os seus comportamentos, como se fosse um disparo mental que lhes faz saltar a “tampa”. Seja através de um comportamento de outro colega, uma chamada de atenção de um professor ou mesmo um problema familiar. É evidente que estes alunos têm uma grande dificuldade em saber gerir e filtrar estímulos externos. Muitos deles, revelam uma falta clara de bases educativas, fruto das inaptidões/ negligências familiares de quem nunca foi capaz de dizer NÃO! BASTA! CHEGA!
Estas crianças, como diz o artigo em baixo, precisam de trabalhar as suas capacidades em gerir os seus impulsos e são mais vítimas do que culpados.

Porém, muitas vezes não é assim, são vários os alunos que apresentam comportamentos desviantes de forma claramente consciente, picando, moendo, desafiando a paciência de pais e professores que dão o seu melhor e mesmo assim só recebem em troca “miminhos” de baixo nível.

Não me farto de dizer isto e vou dizê-lo até ao fim dos meus dias, as crianças/jovens são o resultado de todos os condicionalismos externos, sim, é um facto, mas também são o resultado das suas próprias escolhas. Não alinho na crença que todas as crianças ou jovens são bons, não é verdade, alguns deles são efetivamente maus porque gostam de ser maus, afirmam-se assim, é uma escolha, uma opção consciente de quem acha que só assim será alguém na vida, mesmo que a utilizem para lixar a vida dos outros. Não é um preconceito, é uma constatação de quem já fez centenas de processos disciplinares e verifica que o ser mau traz gozo, prazer, poder.

Será que não há esperança para esses?

Há, claro que há, eles são aquilo que aprenderam, mas têm de querer mudar, experimentar ser diferente, sair da sua zona de conforto e apesar de não ser de desistir, por vezes nem mesmo o melhor professor, pai, psicólogo ou pediatra consegue mudar aquilo que é impossível mudar – a vontade própria.
Esses serão sempre os maus, não por consequência, mas porque quiseram continuar a sê-lo.

Por Alexandre Henriques

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