A benção de quem pode despedir-se. |
Que
se passa no momento da morte e como se desprende o Espírito da sua prisão
material? Que impressões, que sensações o esperam nessa ocasião temerosa? É
isso o que interessa a todos conhecer, porque todos cumprem essa jornada. A
vida foge-nos a todo instante:
Nenhum de nós escapará à morte!
Ora,
o que todas as religiões e filosofias nos deixaram ignorar, os Espíritos, em
multidão, no-lo vêm ensinar. Dizem-nos que as sensações que precedem e se
seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes sobretudo do caráter,
dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra. A separação é
quase sempre lenta, e o desprendimento da alma opera-se gradualmente. Começa,
algumas vezes, muito tempo antes da morte, e só se completa quando ficam rotos
os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida
pela alma revela-se penosa e prolongada quando esses laços são mais fortes e
numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as
comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.
Dolorosa,
cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono
agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para
aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que
aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário,
luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos
materiais e deixou de preparar-se para essa viagem.
Entretanto,
em todos os casos, a separação da alma do corpo é seguida de um tempo de
perturbação, fugitivo para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou
ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger
anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros.
Grande número destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo
depois da morte. Para estas, o perispírito é um segundo corpo carnal, submetido
aos mesmos hábitos e, algumas vezes, às mesmas sensações físicas como durante a
vida terrena.
Outros
Espíritos de ordem inferior se acham mergulhados em uma noite profunda, em um
completo insulamento no seio das trevas. Sobre eles pesa a incerteza, o terror.
Os criminosos são atormentados pela visão terrível e incessante das suas
vítimas.
A
hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se
como desesperado a esta vida que lhe foge; no supremo momento insinuasse-lhes a
dúvida; vê um mundo temível abrir-se para abismá-lo, e quer, então, retardar a
queda. Daí uma luta terrível entre a matéria, que se esvai, e a alma, que teima
em reter o corpo miserável. Algumas vezes, ela fica presa até à decomposição
completa, sentindo mesmo, segundo a expressão de um Espírito, “os vermes lhe
corroerem as carnes”.
Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo,
a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido,
deixa a Terra confiante no futuro.
Para
esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que a ligam
à matéria, destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve
entorpecimento, algo semelhante ao sono.
Deixando
sua residência corpórea, o Espírito, purificado pela dor e pelo sofrimento, vê
sua existência passada recuar, afastar-se pouco a pouco com seus amargores e
ilusões; depois, dissipa-se como as brumas que a aurora encontra estendidas
sobre o solo e que a claridade do dia faz desaparecer. O Espírito acha-se,
então, como que suspenso entre duas sensações: a das coisas materiais que se
apagam e a da vida nova que se lhe desenha à frente. Entrevê essa vida como
através de um véu, cheia de encanto misterioso, temida e desejada ao mesmo
tempo. Após, expande-se a luz, não mais a luz solar que nos é conhecida, porém
uma luz espiritual, radiante, por toda parte disseminada. Pouco a pouco o
inunda, penetra-o, e, com ela, um tanto de vigor, de remoçamento e de
serenidade. O Espírito mergulha nesse banho reparador. Aí se despoja de suas
incertezas e de seus temores. Depois, seu olhar destaca-se da Terra, dos seres
lacrimosos que cercam seu leito mortuário, e dirige-se para as alturas. Divisa
os céus imensos e outros seres amados, amigos de outrora, mais jovens, mais
vivos, mais belos que vêm recebê-lo, guiá-lo no seio dos espaços. Com eles caminha
e sobe às regiões etéreas que seu grau de depuração permite atingir. Cessa,
então, sua perturbação, despertam faculdades novas, começa o seu destino feliz.
A
entrada em uma vida nova traz impressões tão variadas quanto o permite a
posição moral dos Espíritos. Aqueles - e o número é grande - cujas existências
se desenrolam indecisas, sem faltas graves nem méritos assinalados, acham-se, a
princípio, mergulhados em um estado de torpor, em um acabrunhamento profundo;
depois, um choque vem sacudir-lhes o ser. O Espírito sai, lentamente, de seu
invólucro: como uma espada da bainha; recobra a liberdade, porém, hesitante,
tímido, não se atreve a utilizá-la ainda, ficando cerceado pelo temor e pelo
hábito aos laços em que viveu. Continua a sofrer e a chorar com os entes que o
estimaram em vida. Assim corre o tempo, sem ele o medir; depois de muito,
outros Espíritos auxiliam-no com seus conselhos, ajudando a dissipar sua
perturbação, a libertá-lo das últimas cadeias terrestres e a elevá-lo para
ambientes menos obscuros.
Em
geral, o desprendimento da alma é menos penoso depois de uma longa moléstia,
pois o efeito desta é desligar pouco a pouco os laços carnais. As mortes
súbitas, violentas, sobrevindo quando a vida orgânica está em sua plenitude,
produzem sobre a alma um despedaçamento doloroso e lançam-na em prolongada
perturbação. Os suicidas são vítimas de sensações horríveis. Experimentam,
durante anos, as angústias do último momento e reconhecem, com espanto, que não
trocaram seus sofrimentos terrestres senão por outros ainda mais vivazes.
O
conhecimento do futuro espiritual, o estudo das leis que presidem à
desencarnação é de grande importância como preparativos à morte. Podem suavizar
os nossos últimos momentos e proporcionar-nos fácil desprendimento, permitindo
mais depressa nos reconhecermos no mundo novo que se nos desvenda.
Por
Léon Denis
FONTE: O livro Depois da Morte
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