É você que controla seu destino? |
Dada a prova das vidas
sucessivas, o caminho da existência acha-se desimpedido e traçado com firmeza e
segurança. A alma vê claramente seu destino, que é a ascensão para a mais alta
sabedoria, para a luz mais viva.
A equidade governa o mundo; nossa felicidade
está em nossas mãos; deixa de haver falhas no Universo, sendo seu alvo a
Beleza, seus meios a Justiça e o Amor. Dissipa-se, portanto, todo o temor
quimérico, todo o terror do Além. Em vez de recear o futuro, o homem saboreia a
alegria das certezas eternas. Confiado no dia seguinte, multiplicam-se lhe as
forças; seu esforço para o bem será centuplicado.
Entretanto, levanta-se outra
pergunta: Quais são as molas secretas por cuja via se exerce a ação da justiça
no encadeamento de nossas existências?
Notemos, primeiro que tudo,
que o funcionamento da justiça humana nada nos oferece que se possa comparar
com a lei divina dos destinos. Esta se executa por si mesma, sem intervenção
alheia, tanto para os indivíduos como para as coletividades. O que chamamos
mal, ofensa, traição, homicídio, determinam nos culpados um estado de alma que
os entrega aos golpes da sorte na medida proporcionada à gravidade de seus
atos.
Esta lei imutável é, antes de
mais nada, uma lei de equilíbrio. Estabelece a ordem no mundo moral, da mesma
forma que as leis de gravitação e da gravidade asseguram a ordem e o equilíbrio
no mundo físico. Seu mecanismo é, ao mesmo tempo, simples e grande. Todo mal se
resgata pela dor. O que o homem faz de acordo com a lei do bem, proporciona-lhe
tranquilidade e contribui para sua elevação; toda violação provoca sofrimento.
Este prossegue a sua obra interior; cava as profundidades do ser; traz para a
luz os tesouros de sabedoria e beleza que ele contém e, ao mesmo tempo, elimina
os germens malsãos. Prolongará sua ação e voltará à carga por tanto tempo
quanto for necessário até que ele se expanda no bem e vibre uníssono com as
forças divinas; mas, na prossecução dessa ordem grandiosa, compensações estarão
reservadas à alma. Alegrias, afeições, períodos de descanso e felicidade
alternarão, no rosário das vidas, com as existências de luta, resgate e
reparação. Assim, tudo é regulado, disposto com uma arte, uma ciência, uma bondade
infinita na Obra Providencial.
No princípio de sua carreira,
em sua ignorância e fraqueza, o homem desconhece e transgrida muitas vezes a
Lei. Daí as provações, as enfermidades, as servidões materiais, mas, desde que
se instrui, desde que aprende a pôr os atos de sua vida em harmonia com a Regra
Universal, “ipso facto” (pelo próprio fato) é cada vez menos presa da
adversidade.
Os nossos atos e pensamentos
traduzem-se em movimentos vibratórios, e seu foco de emissão, pela repetição
frequente dos mesmos atos e pensamentos, transforma-se, pouco a pouco, em
poderoso gerador do bem ou do mal.
O ser classifica-se assim a si
mesmo pela natureza das energias de que se torna o centro irradiador, mas, ao
passo que as forças do bem se multiplicam por si mesmas e aumentam
incessantemente, as forças do mal destroem-se por seus próprios efeitos, porque
esses efeitos voltam para sua causa, para seu centro de emissão e traduzem-se
sempre em consequências dolorosas. Estando o mau, como todos os seres, sujeito
a impulsão evolutiva, vê por isso aumentar-se forçosamente sua sensibilidade.
As vibrações de seus atos, de
seus pensamentos maus, depois de haverem efetuado sua trajetória, volvem a ele,
mais cedo ou mais tarde, e o oprimem, o apertam na necessidade de reformar-se.
Este fenômeno pode explicar-se
cientificamente pela correlação das forças, pela espécie de sincronismo
vibratório que faz voltar sempre o efeito à sua causa. Temos demonstração disso
no fato bem conhecido de, em tempo de epidemia, de contágio, serem
principalmente as pessoas, cujas forças vitais se harmonizam com as causas
mórbidas em ação, as atacadas, ao passo que os indivíduos dotados de vontade
firme e isentos de receio ficam geralmente indenes.
Sucede o mesmo na ordem moral.
Os pensamentos de ódio e vingança, os desejos de prejudicar, provenientes do
exterior, só podem agir sobre nós e influenciar-nos desde que encontrem
elementos que vibrem uníssonos com eles. Se nada existir em nós de similar,
estas forças ruins resvalam sem nos penetrarem, volvem para aquele que as
projetou para, por sua vez, o ferirem, quer no presente quer no futuro, quando
circunstâncias particulares as fizerem entrar na corrente do seu destino.
Há, pois, na lei de
repercussão dos atos, alguma coisa mecânica, automática na aparência.
Entretanto, quando implica acerbas expiações, reparações dolorosas, grandes
Espíritos intervêm para regular-lhe o exercício e acelerar a marcha das almas
em via de evolução. Sua influência faz-se principalmente sentir na hora da
reencarnação, a fim de guiar estas almas em suas escolhas, determinando as
condições e os meios favoráveis à cura de suas enfermidades morais e ao resgate
das faltas anteriores.
Sabemos que não há educação
completa sem a dor. Colocando-nos neste ponto de vista, é necessário livrarmo-nos
de ver, nas provações e dores da Humanidade, a consequência exclusiva de faltas
passadas. Todos aqueles que sofrem não são forçosamente culpados em via de
expiação. Muitos são simplesmente Espíritos ávidos de progresso, que escolheram
vidas penosas e de labor para colherem o benefício moral que anda ligado a toda
pena sofrida.
Contudo, em tese geral, é do
choque, é do conflito do ser inferior, que não se conhece ainda, com a lei da
Harmonia, que nasce o mal, o sofrimento. É pelo regresso gradual e voluntário
do mesmo ser a esta Harmonia que se restabelece o bem, isto é, o equilíbrio
moral. Em todo pensamento, em toda obra há ação e reação e esta é sempre
proporcional em intensidade à ação realizada. Por isso podemos dizer: o ser
colhe exatamente o que semeou.
Colhe-o, efetivamente, pois
que, por sua ação contínua, modifica sua própria natureza, depura ou
materializa o seu invólucro fluídico, o veículo da alma, o instrumento que
serve para todas as suas manifestações e no qual é calcado, modelado o corpo
físico em cada renascimento.
Nossa situação no além
resulta, como vimos precedentemente, das ações repetidas que nossos pensamentos
e nossa vontade exercem constantemente sobre o perispírito. Segundo sua
natureza e objetivo, vão nos transformando pouco a pouco num organismo sutil e
radiante, aberto às mais altas percepções, às sensações mais delicadas da vida
do Espaço, capaz de vibrar de forma harmoniosa com Espíritos elevados e de
participar das alegrias e impressões do Infinito. No sentido inverso, farão
dele uma forma grosseira, opaca, acorrentada à Terra por sua própria
materialidade e condenada a ficar encerrada nas baixas regiões.
Esta ação contínua do
pensamento e da vontade, exercida no decorrer dos séculos e das existências
sobre o perispírito, faz-nos compreender como se criam e desenvolvem nossas
aptidões físicas, assim como as faculdades intelectuais e as qualidades morais.
Nossas aptidões para cada
gênero de trabalho, a habilidade, a destreza em todas as coisas são o resultado
de inumeráveis ações mecânicas acumuladas e registradas pelo corpo sutil, do
mesmo modo que todas as recordações e aquisições mentais estão gravadas na
consciência profunda. Ao renascer, estas aptidões são transmitidas, por uma
nova educação, da consciência externa aos órgãos materiais. Assim se explica a
habilidade consumada e quase nativa de certos músicos e, em geral, de todos
aqueles que mostram, em um domínio qualquer, uma superioridade de execução que
surpreende à primeira vista.
Sucede o mesmo com as
faculdades e virtudes, com todas as riquezas da alma adquiridas no decurso dos
tempos. O gênio é um longo e imenso esforço na ordem intelectual e a santidade
foi conquistada à custa de uma luta secular contra as paixões e as atrações
inferiores.
Com alguma atenção poderíamos
estudar e seguir em nós o processo da evolução moral. De cada vez que
praticamos uma boa ação, um ato generoso, uma obra de caridade, de dedicação, a
cada sacrifício do “eu”, não sentimos uma espécie de dilatação interior? Alguma
coisa parece expandir-se em nós; uma chama acende-se ou aviva-se nas
profundezas do ser.
Esta sensação não é ilusória.
O Espírito ilumina-se a cada pensamento altruísta, a cada impulso de
solidariedade e de amor puro. Se estes pensamentos e atos se repetem, se
multiplicam, se acumulam, o homem acha-se como que transformado ao sair de sua
existência terrestre; a alma e seu invólucro fluídico terão adquirido um poder
de radiação mais intenso.
No sentido contrário, todo
pensamento ruim, todo ato criminoso, todo hábito pernicioso provoca um
estreitamento, uma contração do ser psíquico, cujos elementos se condensam,
entenebrecem, carregam de fluidos grosseiros.
Os atos violentos, a
crueldade, o homicídio e o suicídio produzem no culpado um abalo prolongado,
que se repercute, de renascimento em renascimento, no corpo material, e
traduz-se em doenças nervosas, tiques, convulsões e até deformidades,
enfermidades ou casos de loucura, consoante a gravidade das causas e o poder
das forças em ação. Toda transgressão da lei implica diminuição, mal-estar,
privação de liberdade.
As vidas impuras, a luxúria, a
embriaguez e a devassidão conduzem-nos a corpos débeis, sem vigor, sem saúde,
sem beleza. O ser humano que abusa de suas forças vitais, por si mesmo se
condena a um futuro miserável, a enfermidades mais ou menos cruéis.
Às vezes a reparação se efetua
numa longa vida de sofrimentos, necessária para destruir em nós as causas do
mal, ou, então, numa existência curta e difícil, terminada por morte trágica.
Uma atração misteriosa reúne às vezes os criminosos de lugares muito afastados
num dado ponto para feri-los em comum. Daí as catástrofes célebres, os
naufrágios, os grandes sinistros, as mortes coletivas, tais como o desastre de
Saint-Gervais, o incêndio do Bazar de Caridade, a explosão de Courrières, a do
“Iena”, o naufrágio do “Titanic”, do “Ireland”, etc.
Explicam-se assim as
existências curtas; são o complemento de vidas precedentes, terminadas muito
cedo, abreviadas prematuramente por excessos, abusos ou por qualquer outra
causa moral, e que, normalmente, deveriam ter durado mais.
Não devem ser incluídas em
tais casos as mortes de crianças em tenra idade. A vida curta de uma criança
pode ser uma provação para os pais, assim como para o Espírito que quer
encarnar. Em geral, é simplesmente uma entrada falsa no teatro da vida, quer
por causas físicas, quer por falta de adaptação dos fluidos. Em tal caso, a
tentativa de encarnação renova-se, pouco depois, no mesmo meio; reproduz-se até
completo êxito, ou, então, se as dificuldades são insuperáveis, se efetua num
meio mais favorável.
Por Léon Denis
FONTE: http://www.paginaespirita.com.br
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