Esperar é uma arte da vida, poucos aprendem! |
A insatisfação, que medra,
assustadora, numa avalanche crescente em todos os arraiais da Sociedade
terrena, procede, de certo modo, da programática educacional das criaturas que,
desde cedo, recebem orientação e adestramento em moldes eminentemente
imediatistas, como se a vida devesse abraçar apenas, o estreito limite entre o
berço e o túmulo...
Centralizando todas as
aspirações no trâmite carnal, o triunfo, conforme os padrões hedonistas, tem
como finalidade à aquisição de valores para o gozo, o destaque na comunidade, a
tranquilidade que decorra de um estômago saciado, um sexo atendido e as
vaidades estimuladas...
No entanto, mesmo quando tal
ocorrência vem de ser lograda, acompanhada de emoções estésicas, eis que o
sonhador da roupagem carnal se depara com outro tipo de necessidade que deflui
do espírito, no seu processo de reeducação pelo impositivo reencarnacionista.
O homem não são,
exclusivamente, as suas necessidades orgânicas e emocionais que se enquadram na
argamassa fisiopsicológica.
O berço e o túmulo
representam, no processo da evolução, meios de que se utiliza a Sabedoria Divina
para que o ser indestrutível entre e saia do corpo, adquirindo experiências.
fixando aprendizagem, modelando caracteres, crescendo na fraternidade e
santificando o amor, que arranca das expressões do instinto de posse para a
sublimação através da renúncia e do sacrifício...
Concebendo a vida como um jogo
fugaz de sensações, em que o homem dotado de recursos amoedados mais é feliz
porque mais consegue, coloca todas as ambições no estreito condicionamento da
posse material, que amargura, quando escassa e frustra. quando farta.
De forma alguma os valores da
rápida aquisição conseguem produzir no homem a verdadeira harmonia, tendo-se em
vista que, impelido pelo próprio instinto de preservação da espécie, se não
vigia, mais ambiciona, quanto mais detém.
A posse, no entanto, de forma
alguma faculta equilíbrio emocional. Quando é abundante, produz o receio da
perda, estimulando a existência dos fantasmas do medo de perder a posição e os
recursos que lhe significam a vida... E, quando é exígua, favorece a escravidão
ao que se gostaria de possuir, como fuga psicológica às inquietações quase
sempre injustificáveis.
O homem deve arrimar-se nos
valores éticos, que ele próprio constrói a pouco e pouco em si e à sua volta,
compensando-se no ideal altruísta, com que desata as emoções superiores que lhe
jazem em gérmen, crescendo moralmente e superando as injunções do cárcere
físico, mediante cuja ascensão consegue a lucidez que lhe dá a perfeita visão
da vida e lhe dilata os horizontes em torno do que lhe convém e do que deve
fazer.
Situando as metas da
existência além dos prazeres transitórios e frustrantes, irmanado à fé libertadora,
com que se arma de resistências para a dor, para o mal, para os distúrbios de qualquer
natureza, logra superar-se e planar além de quaisquer vicissitudes negativas,
através de cujo comportamento fruirá a real felicidade.
Não cobiçando mais do que lhe
é lícito reter; não se afadigando em demasia pelas aquisições transitórias; não
se antecipando sofrimentos advindos do receio do futuro; não vivendo exclusivamente
para o corpo, os insucessos aparentes são convertidos em lições que amadurecem
para os próximos empreendimentos, fixando o bem em si mesmo, com que se ala nos
rumos do Bem Incessante após a vilegiatura orgânica, libertando-se das vestes
físicas com a alegria do escafandrista que retorna à tona, concluída a tarefa
feliz no seio das águas profundas...
A insatisfação que a tantos
amargura, enferma e conduz a distonias de largo porte, pode e deve ser
combatida através de uma pauta salutar de objetivos e de diretrizes
evangélicas, conforme Allan Kardec extraiu dos conceitos morais das insuperáveis
lições do Cristo, fazendo do Espiritismo o mais completo compêndio de otimismo
e de sabedoria conhecido nos tempos hodiernos.
Reflexionando em torno dos
valores reais, como dos aparentes, o homem de bem, inteligente, que sente
necessidade de mais profundas e nobres aspirações para ser feliz, mergulha a mente
e o sofrimento no exercício do amor, em seu sentido mais elevado, defrontando a
grandeza da vida e realizando se por fim em paz.
Por Divaldo Franco
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