Desilusões e Decepções

Recomeçar é sempre bom!
Mesmo que não pareça, pela dor que causa, desiludir-se é bom. Desiludir-se é sair de uma ilusão, de uma visão distorcida ou equivocada acerca de alguém, de algo, de alguma circunstância.


Portanto, a desilusão é benéfica, apesar dos dissabores que inicialmente pode causar. Com o tempo e o amadurecimento, as desilusões passam até a ser bem-vindas, pois indicam crescimento interior.

As decepções possuem outras características. É expectativa frustrada.  Decepcionar-se é esperar demais de uma situação ou de alguém e não ter os resultados esperados. Em muitos casos, desilusão e decepção se fundem num só sentimento de abatimento moral, de desânimo e, por vezes, de descrença.

Muitos estão decepcionados com a humanidade que, apesar do grande número de seres moralmente e espiritualmente superiores que por aqui tem passado, permanece no atraso. Evoluímos muito em técnicas e mesmo em ciência, mas tão pouco em valores humanos e espirituais. Os apelos do mundo externo são tão fortes que muitos vivem em sua função. Deles se nutrem e para eles vivem. A desilusão os aguarda após o retorno à verdadeira vida.

Outros estão decepcionados com a sociedade que criamos, que valoriza em demasia o ter, o possuir, e tão pouco o ser, o caráter, as qualidades e as virtudes morais. Quando falamos de virtudes não nos referimos a crenças em particular. O homem de bem independe de uma crença. Ele faz o bem porque é bom, com naturalidade, sem esperar nada em troca.

Não são poucos os que veem nossa humanidade como uma locomotiva prestes a descarrilar. É como se tivéssemos entrado em alta velocidade num nevoeiro, sem saber o que vem em seguida. Um mundo de inseguranças e incertezas, de medos e de sensação de impotência. Estamos tentando acionar os freios, rever as rotas, corrigir os erros, mas… os que fazem isso ainda são minoria.

Imenso número de pessoas pelo mundo está decepcionado e desiludido com a política e com os políticos. Passou o tempo das mentiras, dos segredos e dos silêncios. Graças à internet quase tudo se torno público em tempo real e fica difícil, cada vez mais difícil, mentir e ganhar tempo para manipular o povo.

É errado desprezar a política, pois essa é a vida de relação. Tudo o que fazemos tem caráter político, seja por ação ou omissão. A política partidária é outra coisa. Mostra-se esgotada no atual modelo. Não tem caráter representativo e o pragmatismo favorece grupos. É uma luta pelo poder, pelo controle, pela condução do povo segundo critérios de grupos dominantes.

Mas não podemos nos esquecer de que esse mesmo mecanismo pode ser usado para o bem. Se grupos de pessoas à altura da tarefa assumem o controle político de nações, esses mecanismos podem servir para a construção de sociedades justas, equilibradas, mas fraternas, onde o estímulo ao respeito às diferenças são freqüentes, eliminando – pouco a pouco -, as disposições mentais para o confronto.

Há muita, muita gente mesmo, decepcionada e desiludida com as crenças, seitas e religiões. O deus mercado, o bezerro de ouro, aparentemente – ou temporariamente – venceu. Praticamente tudo gira em torno do dinheiro e do poder temporal. O Criador anda ausente nos discursos e preleções.  Jesus, Buda, Sócrates e tantos outros luminares da humanidade, são citados de passagem por mera conveniência retórica; como uma pitada de sal na mistura de ideias, num esforço para lhes dar algum sabor.

Nem a Doutrina Espírita vem escapando dessa prática. É natural que ela se apresente com aspectos novos, como desejava e previa Allan Kardec. Uma doutrina evolucionária e revolucionária, que acompanhe a ciência e os conhecimentos humanos, autocorrigindo-se onde e quando preciso, fazendo das obras do codificador um ponto de partida e não de chegada. É cada vez menor o número de leitores de obras com certa densidade e há, até mesmo, desprezo pelo conhecimento.

Quase não há mais pesquisa dos aspectos científicos da paranormalidade. Há pouca ou nenhuma reflexão filosófica e sobram repetições de trechos evangélicos, muitas vezes mal alinhavados, mal interpretados ou claramente adaptados a interesses de grupos. O senso crítico, autocrítico e o bom senso, recomendados pelo codificador, andam igualmente se afastando do movimento espírita que – em certos casos – se vê às voltas com a mentalidade de rebanho, seguindo pessoas e não mais a Doutrina Espírita.

Coisa para se pensar!

Por Paulo R. Santos

FONTE: https://artigosespiritas.wordpress.com

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