O espírito é sempre jovem! |
e, por isso, o avaliador, nem sempre foca o conteúdo, mas apenas as precárias manifestações das forças físicas, como se estas estivessem a atravancar a pressa das enfermidades do mundo e como se o mundo fosse regido pela plenitude física de seus habitantes.
É o estado social da humanidade, como decorrência do progresso intelectual e moral até então realizado, que espelha a condição do mundo, e a plenitude física pouco contribui para essa condição.
O estado social atual da humanidade mostra, embora as valiosas conquistas humanas ao longo da História, o quanto ainda a sociedade humana tem que caminhar rumo ao seu grandioso destino. Não são as forças físicas e sim as do coração e da sabedoria que levarão a esse destino.
Nos primeiros estágios do desenvolvimento da humanidade as forças físicas prevaleciam. O homem era ditado mais pelos instintos do que pelo sentimento e a razão. A conquista e a luta pela sobrevivência imediata eram necessárias. Nessas condições, o planeta, ainda bruto, não podia prescindir das forças da natureza através das convulsões geológicas e também da ação do próprio homem e dos animais de então, para tornar-se saneável e promover a habitabilidade. Pouco se sabe sobre a velhice daqueles tempos. Provavelmente éramos velhos novos, o que significa que nem chegávamos a envelhecer diante de tantas adversidades no enfrentamento de uma natureza inóspita. O vigor físico e o agrupamento eram condições de sobrevivência. A experiência humana ensaiava os primeiros passos. Éramos apenas artífices do futuro a entalhar com sangue e suor a sociedade que hoje conhecemos. Hoje as necessidades são diferentes e a própria configuração do homem é outra. Analisar o velho pela sua condição física demonstra uma visão espiritual apequenada. É deixar de entrever a beleza da história da realização do ser, que se projeta por trás do olhar vivaz do rosto lívido e enrugado. Precisamos de um novo agrupamento. O da fraternidade, onde todos tenham oportunidades de ser úteis. A sociedade moderna já não necessita da subjugação pela força e os tempos da barbárie já são idos. Precisamos valorizar a todos. Nossos velhos, assim como nossas crianças e jovens, são nossos melhores valores. Há pontos de contato entre eles, embora nem sempre haja contato, mormente quando a indiferença faz morada nos corações.
Criou sê-lhes até uma categoria: a da terceira idade. Categorização louvável, para o tempo da Terra. Porém, sua idade espiritual é insondável e não categorizável, pois que, a vida do espírito é uma só, no conceito da imortalidade da alma e das vidas sucessivas na jornada terrena.
Muito do que temos e sabemos, nesta vida, devemos a eles. Eles voltarão – almas antigas em planos novos, em nova existência para novas vivências na Terra, como é da Lei, exatamente como aqueles que hoje os desprezam voltaram e aqui estão e, quiçá, serão velhos também, um dia.
O velho é o oposto da criança; muitos deles, com suas belas criancices.
Uns chegando ao mundo – as crianças, embalados pelos sonhos da infância, com seus potenciais de experiências a realizar.
Outros – os velhos, ocupados intimamente com a partida, vivendo com intensidade o tempo que lhes resta, levando na bagagem suas realizações de virtudes; valores imperecíveis, porque são tesouros dos céus, onde a traça não corrói. E, no âmago do ser, elevando sua gratidão por tudo àquilo que viveram e por todos com quem conviveram. Trazem no brilho do olhar as expectativas do encetamento de novas práticas da vida nas trajetórias terrenas futuras, e o regozijo do anseio por antigos reencontros afetivos no retorno aos braços dos que não vieram a acompanhá-los nesta jornada ou dos que partiram antes. É que já descobriram o valor da velhice e a amplitude da vida do Espírito; imortal vida.
Em sua sabedoria, se antecipam à saudade que advirá dos que prosseguem na marcha terrena, amando na velhice seus entes queridos e amigos como nunca dantes. Levarão o amor na lembrança.
Mais belo ainda esse amor, se correspondido.
Como isolá-los, então? Não é melhor amá-los, no entrelaçamento desse grandioso amor?
Oh! Deus, como nosso coração é mesquinho. Ensina-nos a amá-los!
Indiferentes à indiferença do mundo, sabem que Deus, em sua infinita sabedoria, deu netos para alegrá-los e isso lhes ascende à Vida. As lutas agora são outras. São as lutas do encantamento; do não deixar passar os momentos felizes, singulares da velhice; momentos únicos. Por isso, precisam ser bem vividos.
As crianças, simbolizando a pureza da alma, não têm a pressa e a sagacidade da pressa que a vida impõe impiedosamente ao homem do mundo e, por isso, curtem os seus velhos e ouvem encantados seus contos, renovando com seus encantos, os avós desprezados da vida.
Os velhos, para serem velhos, devem aprender a envelhecer. Resignarem-se diante do exaurir gradual das forças e das ofensas do mundo; mas não se deixarem abater, renascendo para a própria vida em forma do vivenciamento intenso de seus anseios mais nobres em correlação com as suas forças. Afinal, agora velhos, já não estão mais presos às convenções e aos deveres. Já têm tempo e sabem o que melhor lhes dignifica esse novo tempo; tempo que só os velhos têm. Deus é sábio e deu-lhes a decrepitude quando já não lhes é mais exigida à luta acerba do dever da sustentação da família. Deu-lhes a oportunidade do vivenciar mais belo, sem a exigência da força física de outrora, que ficou consubstanciada em outras lidas.
É preciso que os homens, à semelhança de Deus, sejam revestidos de sabedoria para vivenciarem os seus velhos; beberem as suas ricas experiências do sentir e do saber.
Feliz dos velhos que têm netos e filhos amorosos, pois já não terão que experimentar o fel da indiferença, oferecendo, em contrapartida a esse amor, o seu próprio amor.
Desrespeitar os velhos é não considerar o amanhã.
O velho de hoje, foi, em tempo ido, se bem vivido, o servidor de todos e, por isso, está apto ao galardão de maior entre todos, na assertiva de Jesus: “Quem quiser ser o maior dentre vós, seja o servidor de todos”.
Não desprezemos, pois, os que promoveram as nossas vidas e que hoje as enchem de amor.
Feliz daquele que valoriza e ama os velhos do mundo. Feliz do velho que viveu a vida bem vivida e vive agora o esplendor da velhice com o espírito jovem, cheio de vida.
Ouçamos como as crianças, a história do vovô! Saboreemos o bolo da vovó! O mundo certamente será mais doce e mais poético.
E vós, que possuis o privilégio de ainda conviver com eles, já abraçou os seus velhos hoje?
Por Anderson Santos Andrade Silva
FONTE: http://www.aeradoespirito.net
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