Por que não chamo mais Kardec de
codificador
Esse termo não aparece em nenhuma obra
de Kardec e só se vê o seu uso no Brasil. No dicionário Houaiss, codificar
significa: “reunir numa só obra textos, documentos, extratos oriundos de
diversas fontes; coligir, compilar”. Ora é exatamente essa a ideia que a
maioria dos espíritas tem a respeito do trabalho de Kardec. Há muito tempo,
já desde o meu livro “Para entender Allan Kardec”, compreendi que o papel
de Kardec no Espiritismo não foi apenas o de compilador, organizador de ideias
prontas, vindas dos Espíritos. Essa visão bem típica do movimento espírita
brasileiro reduz o Espiritismo a uma revelação acabada, sacralizada, e a função
de Kardec a uma espécie de secretário dos Espíritos. Bem diferente é o que ele
pensava sobre seu próprio trabalho.
Diz ele em Obras Póstumas:
“Conduzi-me, pois, com os Espíritos,
como houvera feito com homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios
de me informar e não reveladores predestinados.”
E na Gênese:
“O homem concorre para a revelação com
o seu raciocínio e o seu critério; desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no
caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos. Ora, as
manifestações (...) são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei,
auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal
modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do
termo.”
Na verdade, Kardec foi um pesquisador,
criador de um método genial que reúne a investigação científica dos fenômenos
mediúnicos, com a articulação racional, filosófica e a revelação espiritual.
Pela primeira vez na história da humanidade, a revelação é passada pelo crivo
científico e a ciência se abeira da espiritualidade com métodos próprios de
observação.
No Brasil, perdemos os critérios de
racionalidade e pesquisa que Kardec criou para a análise dos fenômenos
mediúnicos e ficamos apenas com a revelação, aceita cegamente. Qualquer coisa
que qualquer médium diga ou receba é aceito sem questionamento!
Portanto, a nossa homenagem a Kardec no
dia de hoje é ao grande pesquisador, pensador, fundador do Espiritismo – ainda
muito desconhecido, desconsiderado e incompreendido, por não-espíritas e pelos
próprios que se dizem seus seguidores.
Por Dora
Incontri
Fonte: http://www.redeamigoespirita.com.br
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