“É assim que
tudo serve, que tudo se encadeia
na Natureza, desde
o átomo primitivo até o arcanjo, que também começou por ser
átomo.” 1
Todos
nós, Espíritos imortais, ao sermos criados, partimos de um mesmo ponto,
recebendo como herança a capacidade de progredir, em medida absolutamente
igual, em consonância com a indefectível justiça de Deus. Ao longo dos milênios
sucessivos, através do esforço evolutivo individual, vamos revelando a luz
divina que trazemos dentro de nós, conforme se depreende da recomendação de
Jesus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens (...).” 2
Jesus
não teria feito essa recomendação se não soubesse da existência dessa herança
divina imanente em todos os seres, cantada com o nome de amor pelo poeta:
“O amor em nós, certo, existe
desde o nosso alvorecer,
remontando a priscas eras,
no esboço do nosso ser.
Em estado de latência,
no dealbar da existência,
Deus concede de antemão,
a sua herança bendita,
que a alma busca contrita
nas asas da evolução.” 3
A
exteriorização mais ou menos intensa dessa herança divina que trazemos é que
nos torna diferentes uns dos outros. Só dentro de uma perspectiva evolutiva é
que podemos ver um silvícola feroz e um Francisco de Assis como filhos de um
mesmo Deus justo, pois o que diferencia esses dois Espíritos não é a sua
natureza, a sua origem, mas apenas evolução. As diferenças individuais se
originam no homem, não em Deus.
A
evolução do Espírito se efetiva através de inúmeras vidas sucessivas, que
oferecem-lhe oportunidades variadas de incorporar em si as experiências que o
meio lhe propicia, num processo que se pode chamar de desenvolvimento da
inteligência e das virtudes que lhe são imanentes. Essa visão da evolução do
Espírito é muito clara no Espiritismo.
Em
outras religiões reencarnacionistas, a reencarnação é vista apenas como
oportunidade de os Espíritos faltosos retornarem à Terra a fim de reparar seus
erros ou de concluir aquilo que deixaram inacabado. Admitem, também, a
reencarnação de Espíritos mais adiantados, que retornam ao mundo físico em
missão, para ensinar o caminho do Bem. Essas religiões não têm a perspectiva
evolutiva.
O
Espiritismo não nega essas duas situações, indo, todavia, mais além, ensinando
que não se reencarna só em missão ou resgate, mas que a reencarnação é
absolutamente necessária, indistintamente, a todos os Espíritos, por ser
inerente ao processo evolutivo.
Portanto,
a reparação de faltas anteriormente cometidas não é vista como punição, mas
como elemento essencial da escalada evolutiva rumo à perfeição, a que todos
estamos sujeitos. Igualmente, no desempenho de missão sacrificial, o Espírito
Superior que a leva a efeito não está fora do processo evolutivo, porque também
ele está progredindo, embora nada deva à Terra, tendo o seu retorno sido
motivado apenas pelo amor.
No
Espiritismo, a reencarnação ocupa lugar de destaque, constituindo-se num dos
pilares básicos de toda sua estrutura doutrinária, contrapondo-se frontalmente
à tese salvacionista, ensinada por outros setores do Cristianismo. Em verdade,
a respeito de salvação, o Espiritismo vai muito além de outras religiões, pois
ao nos ensinar que não existem penas eternas, leva-nos a concluir que todos
estamos salvos, porque somos cidadãos do Universo, filhos amados de Deus,
habitantes da “Casa do Pai”, conforme ensinou Jesus.
Em
verdade, o Mestre nunca apresentou soluções mágicas de salvação gratuita, com
base apenas na fé. Pelo contrário, suas lições sempre foram no sentido de
acordar a criatura para a necessidade de assumir sua vida, tomando em suas mãos
as rédeas do seu próprio destino: “(...) renuncie-se a si mesmo, tome sobre si
a sua cruz, e siga-me.” 4
São
muitas as recomendações do Mestre no sentido de a criatura despertar para a
necessidade de progredir: “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos,
bendizei os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que
vos maltratam e vos perseguem.” 5 e, mais adiante,
continua a recomendação: “Sede, pois, vos outros, perfeitos, como perfeito é o
vosso Pai celestial.” 6
E
por ser uma doutrina eminentemente evolucionista e não salvacionista é que o
Espiritismo prioriza a oração consciente, o estudo, a reflexão, obediente à
recomendação do Espírito da Verdade: “Espíritas! amai-vos, este o primeiro
ensinamento; instruí-vos, este o segundo.” 7
Assim,
se bem atentarmos para a amplitude e profundidade dos ensinamentos de Jesus,
veremos que, em última análise, seus ensinamentos se constituem numa ampla
proposta de aperfeiçoamento do Espírito, num chamamento ao esforço individual,
que não pode ser desenvolvido numa só vida. Por isso, quem medita sobre os
ensinamentos e exemplos de Jesus encara o Evangelho não como um livro sagrado
que deva ser lido de mãos cruzadas sobre o peito em atitude de reverência, mas
o vê como um manual de evolução do Espírito, que traça um roteiro de luz, a ser
seguido ao longo de milênios sucessivos.
Por
José Passini
FONTE: //doutrinaespirita.com.br/?q=node/40
1 – O Livro dos Espíritos, item 540
2 – Mateus, cap. 5, vers. 16
3 – José Soares Cardoso (Acordes
Espirituais)
4 – Mateus, cap. 16, vers. 24
5 – Mateus, cap. 5, vers. 44
6 – Mateus, cap. 5, vers. 48
7 – O Evangelho segundo o
Espiritismo, cap. 6, item 5
Perfeito!
ResponderExcluirValeu, por sua participação!
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