“Nada
é tão poderoso no mundo como
uma ideia cuja oportunidade chegou.”
Victor Hugo.
O último livro de Allan Kardec estava pronto e seria
lançado no mês seguinte. Em A Gênese (Paris, 06 de janeiro de 1968), o fundador
do espiritismo ensaiava uma síntese de toda sua vasta obra, objetivando
precisar o verdadeiro caráter da doutrina espírita e sua conexão com o
desenvolvimento da ciência e da filosofia, notadamente com os revolucionários princípios
do progresso e da evolução, ícones do século 19.
No dia 18 de dezembro de 1867, na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas, o espírito São Luís, pelo médium Senhor Desliens,
antecipando-se ao lançamento do livro, ditou a comunicação “Apreciação da obra sobre A Gênese” (Revista
Espírita – fevereiro/1868). Prenunciava o aparecimento do livro como o marco de
uma nova fase do Espiritismo. Até então, ele servia para satisfazer “as aspirações da alma”, enchendo “o vazio deixado pela dúvida nas almas
vacilantes em sua fé”. A caridade, até ali fizera “o laço das almas ternas”. A partir de então, cabia ao Espiritismo
agregar ao “atributo de consolador”,
o de “instrutor e diretor do espírito, em
ciência, e em filosofia, como em moralidade”. A síntese ciência/filosofia/moralidade,
consolidada em “A Gênese”, preparava, no dizer do espírito, “as vias da fase que se abrirá mais tarde,
porque cada coisa deve vir a seu tempo”. Claramente, com já o fizera
algumas vezes o próprio Allan Kardec, São Luís pressupunha diferentes fases
para o Espiritismo. Primeiramente se direcionara aos carentes da fé na
imortalidade, sequiosos de uma explicação plausível para as questões
respondidas pela religião com a “fantasia”
e o “mistério”. Agora, dirigia-se às
“inteligências viris”, fazendo-se “traço de união” entre elas. Seria a
consolidação da ciência da alma: o conhecimento trazendo nova visão sobre o
universo e o ser humano.
Em 1984, quando a Federação Espírita Brasileira
comemorava seu centenário, uma mensagem ali recebida e atribuída a Allan Kardec
saudava a instituição pelas “vitórias
parciais” até então alcançadas, e demonstrava certa preocupação ao afirmar
que, embora “o movimento regenerador de
almas” se mantivesse “de pé, em
terras brasileiras”, a codificação espírita se mantinha “essencialmente desconhecida de tantos
corações que se rotulam de espiritistas”. A mensagem tecia “louvor ante a grandiosa obra”
empreendida “em nome da Caridade”. Mas
advertia que a “recomendação inolvidável
para as defensivas do movimento regenerador de almas é a INSTRUÇÃO” (assim mesmo, em letras maiúsculas, Reformador -
março/1984).
Vê-se, com clareza, que o mesmo teor da mensagem de São
Luís é o do espírito identificado como Allan Kardec, 117 anos depois. Inegavelmente,
decorrido tanto tempo, amplos setores do Espiritismo ainda relutam em avançar
para uma nova fase: a do conhecimento libertador. No século 19, São Luís
reconhecia que “cada coisa deve vir a seu tempo”. No século 20, Kardec se mostrava
preocupado com a lenta transição.
Se for mesmo assim, cabe a pergunta:
Que estarão esperando dos espíritas do Século 21
aquelas almas pioneiras?
Fonte:
//ccepa-opiniao.blogspot.com.br/ de quarta-feira, 13/06/2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário